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segunda-feira, 17 de maio de 2010

Esquadros - Adriana Calcanhoto

Uma breve reflexão sobre esta poesia incrível...



Esquadros
(Adriana Calcanhoto)

Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de almodóvar
Cores de frida kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Ah! Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados de um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto pra quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
............................

Esquadros / Esquadrinhar
significado: buscar com cuidado e diligência até nos menores recantos; pesquisar; espionar; estudar com cuidado.
E eu... "eu vejo tudo enquadrado", quase sempre.
Fotografias a olho nú: pela janela do quarto, do carro, pela tela, pela janela...

Remoto controle
Remoto controle de um 'controle remoto' que eu não possuo. Vejo cores, alegrias e também me deparo com angústias e tristezas que não consigo desfazer. Vejo "doer a fome nos meninos que têm fome". Putz! Como é remoto, o meu controle. Não consigo transformar a cena.

Quem é ela, quem é ela? 
Pode ser eu, que enquanto observo o mundo, também me vejo, enquadrada ou esquadrinhada, tanto pelo reflexo da janela, quanto pelo olhar do outro.
Pode ser o outro. Que mistério é o 'outro'! Um universo particular...


Os automóveis correm para quê?
Cada qual com a sua urgência. E são muitas. Não sei se tão urgentes quanto parecem. A vida é tão rara! E me parece que imediata, também. Nada pode esperar. A vida tem pressa de chegar a lugar nenhum.


As crianças correm para onde?
Perdidas. Vejo pessoas perdidas todos os dias. E, consideravelmente, mais adultos que crianças. Correm o tempo todo e nem mesmo sabem onde querem chegar, e porquê. Me parece que o deslocamento, por si mesmo,  já é suficiente. 'O que você não pode é ficar parado! Ande! Um dia você descobre onde tem que chegar.' Têm pessoas que passam uma vida inteira correndo sem saber pra onde. Considero isto muito triste e estressante. Como um cachorro que corre atrás do seu próprio rabo: se cansa, se fadiga e continua frustrado.


É... complexo! Muito complexo! rs

Boa Semana a todos!
Grande abraço.

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