:: Atualizado quase que Diariamente ::

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Que Venha 2011 (2)



"Eu vejo a vida melhor no futuro
Eu vejo isso por cima de um muro
De hipocrisia que insiste em nos rodear
Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante, sincera..."

(Lulu Santos)

Que Venha 2011

"Se quer saber, nunca é tarde demais ou, 
no meu caso, cedo demais
para ser quem você quer ser. 
Não há tempo, limite de tempo... comece quando você quiser! 
Você pode mudar ou ficar como está. 
Não há regras pra esse tipo de coisa. 
Podemos encarar a vida de forma positiva ou negativa. 
Espero que encare de forma positiva. 
Espero que veja coisas que surpreendam você. 
Espero que sinta coisas que nunca sentiu antes. 
Espero que conheça pessoas com pontos de vista diferentes. 
Espero que tenha uma vida da qual se orgulhe. 
E se você descobrir que não tem, 
espero que tenha forças para conseguir começar novamente."

(O Curioso Caso de Benjamin Button)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Mamãe Noel

Mamãe Noel
(Martha Medeiros)

Sabe por que Papai Noel não existe? Porque é homem. Dá para acreditar que um homem vai se preocupar em escolher o presente de cada pessoa da família, ele que nem compra as próprias meias? Que vai carregar nas costas um saco pesadíssimo, ele que reclama até para colocar o lixo no corredor? Que toparia usar vermelho dos pés à cabeça, ele que só abandonou o marrom depois que conheceu o azul-marinho? Que andaria num trenó puxado por renas, sem ar-condicionado, direção hidráulica e air-bag? Que pagaria o mico de descer por uma chaminé para receber em troca o sorriso das criancinhas? Ele não faria isso nem pelo sorriso da Luana Piovani! Mamãe Noel, sim, existe.

Quem é a melhor amiga do Molocoton, quem sabe a diferença entre a Mulan e a Esmeralda, quem conhece o nome de todas as Chiquititas, quem merecia ser sócia-majoritária da Superfestas? Não é o bom velhinho.

Quem coloca guirlandas nas portas, velas perfumadas nos castiçais, arranjos e flores vermelhas pela casa? Quem monta a árvore de Natal, harmonizando bolas, anjos, fitas e luzinhas, e deixando tudo combinando com o sofá e os tapetes? E quem desmonta essa parafernália toda no dia 6 de janeiro?

Papai Noel ainda está de ressaca no Dia de Reis. Quem enche a geladeira de cerveja, coca-cola e champanhe? Quem providencia o peru, o arroz à grega, o sarrabulho, as castanhas, o musse de atum, as lentilhas, os guardanapinhos decorados, os cálices lavadinhos, a toalha bem passada e ainda lembra de deixar algum disco meloso à mão?

Quem lembra de dar uma lembrancinha para o zelador, o porteiro, o carteiro, o entregador de jornal, o cabeleireiro, a diarista? Quem compra o presente do amigo-secreto do escritório do Papai Noel? Deveria ser o próprio, tão magnânimo, mas ele não tem tempo para essas coisas. Anda muito requisitado como garoto-propaganda.

Enquanto Papai Noel distribui beijos e pirulitos, bem acomodado em seu trono no shopping, quem entra em todas as lojas, pesquisa todos os preços, carrega sacolas, confere listas, lembra da sogra, do sogro, dos cunhados, dos irmãos, entra no cheque especial, deixa o carro no sol e chega em casa sofrendo porque comprou os mesmos presentes do ano passado?

Por trás do protagonista desse megaevento chamado Natal, existe alguém em quem todos deveriam acreditar mais.

(Dezembro de 1998)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Tentando

Tentando entrar de férias
Tentando me formar
Tentando este negócio que as pessoas chamam de "vencer na vida"
Tentando não desistir da ternura
Tentando deixar a casa pronta até o Natal
Tentando não me abater (muito) com as dores de amigos queridos
Tentando não ficar muito tempo sem ligar para tais amigos queridos
Tentando acompanhar o crescimento de seus filhotes
Tentando tempo pra abraçá-los ainda este ano
Tentando não responder com grosseira às pressões do dia-a-dia
Tentando descansar em poucas horas de sono
Tentando não sentar e chorar
Tentando ser paciente...
Tentando não deixar pra comprar os presentes em cima da hora 
Tentando me organizar pra curtir meus pais, irmãos, primos e tios
Tentando colocar os médicos e exames em dia
Tentando melhorar a qualidade de vida
Tentando não deixar a vida passar despercebida
Tentando manter a verdade e a honestidade (sempre) 
Tentando fazer bonito (mais do que sempre) 
Tentando...
Tentando...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Reinventar-se


"Para Reinventar-se às vezes é necessário 
ir ao limite perigoso por onde trafegaram Transgressores."
(Ricardo Gondim)



Sim. Ouse reinventar-se.
A vida pulsa sempre contra a estagnação.
Mas quando sentir que a queda é próxima, pare.
Não dê mais um passo sequer.
A transgressão não é um bom caminho a ser trilhado.
Nele, a euforia passa como um relâmpago.
Deixando na carne marcas de dor e sofrimento.
Dê alguns passos pra trás, volte.
Gire 180º em torno de si mesmo, olhe a estrada percorrida até então. 
Não foi fácil chegar até aqui. Lembre de todo o esforço empreendido.
Respire fundo.
E deste ponto escolha seu novo destino.
Se vale uma sugestão, escolha o mais estreito,
o que caminhe um por vez, o menos concorrido.
A maioria, frequentemente, anda por trilhas cegas. Largas, mas cegas.
E se estiver cansado, exausto e quiser descansar volte pra casa.
Refaça o caminho.
Refazer o caminho não é desconstruí-lo. E voltar não é desmérito.
Pelo contrário. Farão uma festa na sua chegada.
Tenho certeza que alguns sentiram muito sua falta.
Compartilhe suas aventuras. Ou guarde-as para si. 
Elas farão parte da bagagem que agora você carrega aí dentro. 
Lembranças de uma longa viagem. 
Onde só se podiam encontrar belezas e sustos, enquanto se ia.
E sair e ir ver, valeu a pena.
Arriscar tudo, não.

domingo, 28 de novembro de 2010

As Últimas do RJ- parte 2

Cara,
Há tempos escolhi a verdade como norte. E eu preciso dizer: tem horas que eu acho melhor que os bandidos morram; tem horas que acredito que haja recuperação pra eles.
A fala da mãe do Mister M, bandido que se entregou hj a policia, me fez pensar que como ela, muitas outras mães estão orando, chorando, clamando pela regeneração de seus filhos.
Que sentimento dividido!
Eu consigo ter misericordia e graça em lidar com pecados bem cabeludos, mas com a crueldade em jogo fica muito dificil ter um olhar piedoso. Mas eles tb são filhos. Tb são "coroas da criação". Tb foram comprados por preço alto. Tb são "menina dos olhos". Estranho esse negócio de sermos iguais perante Deus. Não é justo! Mas Ele segue mesmo outros parâmetros.
É...
Torço, agora, por mais rendições, arrependimentos, reconciliações com tudo o que se chama vida, conhecimento do amor do Pai e da Graça, Nova vida...
Minha oração será nesta direção: que haja arrependimento e mudança.
Confesso que o "não matarás" é dificil de entrar na cabeça num primeiro momento.
E é bom poder lidar com a verdade e ir dizendo enquanto as coisas estão acontecendo, porque me sinto livre e a vontade de ir me construindo enquanto digo-reflito-digo-reflito-digo...
Este Reino de Deus sempre me dá uma rasteira. 
Maranata!

"Deus, toma Teu Santo Trono em meu coração. O lugar que é somente Teu, em meu coração. Pra que se aumente Seu governo, Seu domínio e venha paz sem fim. Tu és Digno de Reinar. Deus, toma Teu Santo Trono em nossa nação. O lugar que é somente Teu, em nossa nação. Pra que se aumente Seu governo, Seu domínio e venha paz sem fim. Tu és Digno de Reinar. Deus, toma Teu Santo Trono em toda Terra. O lugar que é somente Teu, em toda Terra. Pra que se aumente Seu governo, Seu domínio e venha paz sem fim. Tu és Digno de Reinar." (Paul Wilbur) 

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

As Últimas do RJ

Oi pessoal,
A coisa tá feia, né?!
Pois é. Desde a madrugada de domingo pra segunda que a situação só vem piorando, mas confesso que hoje foi o dia em que me senti assustada pela primeira vez.

Logo de manhã cedo apareciam umas notas na internet sobre uma possível bomba deixada no Centro. Com esquadrão anti-bomba e reforços de outros batalhões. Imaginei o caos que estaria ali, bem pra onde eu estava indo. Imaginei aquela confusão toda, ruas fechadas, boataria. Liguei pro meu marido, conversamos um pouco enquanto eu resolvia se saia ou não. A confusão estava "perto demais".

Não senti medo, daqueles que paralisam. O problema é que eu dou uma "sorte" com estas confusões! Pensa em alguma confusão no Rio nos últimos tempos. Eu estava lá (rs). Desde confusões no metrô em dias de greve de ônibus, enchente (peguei uma enchente uma vez na Av. Atlântica que não dava nem pra encarar nadando)... já fiquei presa umas 5h num engarrafamento na Ns. de Copacabana no dia do show do Rolling Stones (tudo parado, as pessoas invadindo a rua, nada de banheiro...). Na época das intervenções policiais nos morros entre 2007 e 2008, eu fazia muito Projeto Social e passei muito sufoco, de ter que deitar no chão com as crianças, me esconder no corredor e o tiro comendo e helicoptero pra tudo quanto é lado, e ninguém sai do morro... mó merda! É muita estória. Normalmente quando o caos se instala no Rio, eu tô lá! rs. Parece ímã! Ou Deus tem um grande interesse em sempre me fazer valorizar e repensar a vida.

Enfim, hj optei pelo "sem aventura". Acabei ficando em casa e assistindo a confusão toda pela TV durante a tarde. Muito sinistro! 

Venho comentando esta situação toda pelo twitter e alguns de vcs já leram algum posicionamento meu. Continuo achando que as motivações são políticas e que há um reforço bem especial da midia em piorar o clima de terror. E com isso, não desconsidero a existência da criminalidade. Ela é real, não é ficção. 

É só somar: estratificação social (na zona sul, por exemplo, no mesmo bairro tem gente dormindo no papelão com ratos e gente comprando um vestido de R$5 mil pra ir numa reuniãozinha numa quarta-feira a noite) + marginalização + privações de direitos sociais básicos como moradia, saúde, educação, lazer, segurança + revolta + preconceito + desemprego + não planejamento familiar + tráfico de armas + corrupção policial-militar + corrupção política + ONGs que se (retro)alimentam de pobreza, miséria e segregação + uso de drogas + entrada de drogas ilicitas por fronteira não vigiadas + venda de drogas ilicitas + nenhuma expectativa de vida + revolta + privações + revolta...  eis a receita de uma "bomba-favela-inferno". Caseira, inclusive. 

A prevenção está em subtrair TUDO o que foi somado acima.

O problema é que instalado o caos, não vale mais falar de prevenção e o confronto me parece ser importante e inevitável. Não resolve. Mas diminui o poderio bélico, intimida, reduz a mão-de-obra disponivel (prendendo ou matando) e especialmente nos dá uma sensação de maior segurança, pelo simples fato do Estado mostrar quem é maior que quem. Quem está no comando. Quando a policia aparece imponente diante dos nossos adversários personificados, nos sentimos menos vulneráveis. Digo "personificado" porque neste caso o problema maior não é o bandido. É o medo. Mas medo que não tem nome, nem cara, não se alivia. O bandido é a personificação do que entendemos que esteja errado. É o objeto. Então precisamos acabar com ele. De qualquer maneira. E tudo será resolvido. E a paz voltará a reinar. Numa visão reducionista, claro.

Mexeram num vespeiro, num formigueiro, num ninho de baratas, de ratos. Ao tempo que também alimentaram e engordaram a tal nação-praga durante muitas décadas. São muitos anos de cinismo. "Cresçam! Só não desçam!"
Nunca desceram em massa, mas sempre desceram pra fazer seus "ganhos", coagindo, assustando, matando.
Por isso repito: uma ação inédita como esta, em estratégia e reforço, precisa ser cirúrgica, precisa, pontual e eficiente. Eficiente, especialmente em coagir, coibir, desarticular e restaurar o máximo de ordem possível. Começou, agora vai até o fim. O poder público botou uma "banca" imponente e a expectativa da população é proporcional a isto. Se o pau não quebrar feio pro lado da bandidagem, se as atitudes não forem acertivas e eficientes em resultado, teremos outro problema: o fracasso, o ridículo, o descrédito popular gerando com isso o aumento da auto-confiança da bandidagem o que faz com que se levantem com mais força. E neste caso, neguinho, a casa vai cair pra gente.

Eu não sou humanista. Gosto do pensamento sociológico, que é onde baseio quase sempre minhas opiniões. Mas não sou humanista. Não tenho pena de bandido. Nenhuma. Sou educadora, tenho uma forte veia socialista, conheço boa parte das carências que a galera "marginalizada" sofre. Nunca morei em favela, mas já estive em buracos muito piores do que um barraco e já vi gente (sobre)vivendo da maneira mais sub-humana que vc possa imaginar. Eu dei aula por um Projeto do Viva Rio uma época no lugar onde funcionava um "microondas". As crianças não dormiam com os gritos e gemidos dos "condenados" e encontravam pedaços de dedos, orelhas, pelo chão de manhã. O que eu vi ali, enquanto estive, mudou meu olhar sobre a vida e minha concepção sobre um monte de coisas. Bandido pra mim, ou se regenera ou morre. (ficar trancado numa penitenciária, sem recursos, durante anos ou resto da vida tb é morrer). (agora eu vou de encontro a opiniões de bons amigos que eu amo muito e respeito tb. cada um tem uma historia de vida, uma formação, o que influencia muito na maneira de pensar. espero ter de volta o mesmo respeito.) Não tenho pena! Cada um que assuma as consequências das suas escolhas. Não gosto de tratar as pessoas como vitimas. E privações não justificam o crime. Se eu pudesse vitimizar uma classe na nossa sociedade seriam os mendigos, os desabrigados, os moradores de rua. A estes sim, exerço toda solidariedade. Pra bandido não.  

Não acredito em recuperação nos presídios. E estão todos superlotados. E de novo, as falhas do nosso sistema social não nos dão outra opção além de desejarmos que morram mesmo! Vão levar pra onde? Vão (re)socializar como? Em quanto tempo estarão soltos novamente? E de que maneira? A policia prende e a lei (paternalista) solta. O cara não cumpre nem metade da pena em reclusão. A única instituição que faz alguma diferença (boa) lá dentro são as igrejas evangélicas. Disparado! Nem ONG tem tanta representação expressiva quanto a igreja no ambiente penitenciário. É um monte de gente amontoado e "guardado" num mesmo lugar, só consumindo energia elétrica, comida, água... só passando o tempo e NADA de atividades que possam gerar alguma reflexão, mudança para que se chegue a tal (re)socialização. 

Não acredito que as ações sejam articuladas por um mesmo comando. Acho que quando a sensação de caos se instala, muitos aproveitam pra fazer a sua bagunça tb, o seu "proteste já!". Daí, não precisa ser bandido pra colocar fogo em carro e ônibus. Basta ter disposição, má indole, um galão de gasolina e fósforo. Tem bandido e não bandido (que virou bandido) nesta historia toda. Assim como tem boas intenções e sensacionalismo nas ações do governo e da midia.

Tô mais ou menos nesse pensamento, neste sentimento...

Queria deixar claro tb, que nem de longe estou falando de morador de favela, da galera, do povo. Nem de longe. Tenho grandes amigos em algumas delas. Gente da melhor qualidade. Estudantes, gente batalhadora, mães... pessoas. Quem me conhece de perto sabe que eu não faço distinção com ninguém. Pra mim, gente é gente. E pouco me importa a classe social, o contra-cheque, o nivel de escolaridade. Eu não estou nem aí pra essas besteiras. Não estou falando de pobre. Estou falando de bandido. E quando eu falo de bandido, eu falo só de bandido. Sei que muitas vezes são parentes e amigos de pessoas que me são muito queridas. Mas continuam sendo bandidos. E ponto. Não estou falando de pessoas de bem. Estou falando de criminosos frios e absurdamente violentos. Portanto, não se ofenda por favor. Crime é crime. Quem pratica crime é criminoso. E existe um preço a ser pago por tal transgressão. É assim que funciona e quem escolhe esta vida o faz conscientemente. Não há inocentes nesta historia: nem nós enquanto falhos em nossas responsabilidades sociais, nem eles quando escolhem o caminho do crime.

O reino desta Terra ainda não é o de Deus. E neste reino nossa justiça é sim "como trapos de imundícia", falha, parcial, hipócrita e até mesmo criminosa. O Reino de Deus é de novas chances, recosntrução do homem, esperança. A justiça de Deus foge aos nossos valores e nos surpreende. Ela favorece os mais fracos, os oprimidos. Ou nos posicionamos diante do nosso próprio reino, ou diante do Reino de Deus. Pra que Ele venha. E disponivelmente, por meio de nós.

Tenho lido muita gente dizendo: "Vamos orar pelo Rio!". Claro, vamos sim. Deus é sempre aquele Pai a quem recorremos pra que nos livre a cara quando falhamos em alguma responsabilidade. É preciso mais do que orar. Aliás, esta é a parte mais fácil e nós sabemos disso. É preciso ser Cristo no mundo e vê-lo nos que necessitam ("Porque tive fome e não me deste de comer. Tive sede e não me deste de beber...").

Vamos ficar junto, nos falando.
Psicologicamente é importante nos sentirmos seguros e termos a certeza de que as pessoas que amamos tb estão.
Dê noticias. Não ter noticias piora muito num momento desses.

Paz!
Beijo. 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Carinha!


Serginho, 
Acho que tá na hora de pleitear insalubridade
e periculosidade pra galera, não?
"Estamos Juntos!"
Beijo.

O Cara!


"Sei da minha relação com a sociedade, mas quero desencarnar do cargo. Quero fazer uma limpeza para voltar a agir na mais primorosa normalidade de um ser humano."
(Luiz Inácio Lula da Silva)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Etnomusicologia, Ação e Conhecimento

(clique na imagem para ampliá-la)

Lembrete


"Ama-se para não esquecer. 
O que mais desejamos é que alguém nos guarde."
(Liberdade na vida é ter um amor para se prender)
- Fabrício Carpinejar -

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

CCJ do Senado aprova PEC da Felicidade

Felicidade: dá uma boa discussão.
Inicio o post com uma matéria que saiu nos jornais hj sobre a alteração do texto de lei da Constituição Federal de 1988. Sigo com um texto sobre "o que é ser feliz" e termino com uma música do Ivan Lins. O post ficou grande, mas interessante. Espero que gostem.

(Pensei imediatamene neste filme, quando vi esta noticia hoje...)


CCJ do Senado aprova PEC da Felicidade
(Publicada em O Globo 10/11/2010) 

BRASÍLIA - A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta quarta-feira, em votação simbólica, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do senador Cristóvam Buarque (PDT-DF) que inclui o direito à busca da felicidade entre os direitos sociais e constitucionais dos brasileiros, cabendo ao Estado garantir condições para o exercício desse direito.

A matéria segue, agora, para plenário, onde precisará ser votada em dois turnos, com aprovação de três quintos dos senadores.

"São direitos sociais essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição", diz o texto da proposta, que propõe nova redação ao artigo 6º da Constituição Federal.
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O que é ser feliz?
(por Monica Aiub)*

"A felicidade consiste em ser o que se é", afirmava Erasmo de Rotterdam no Elogio da Loucura".

... a felicidade é algo final e autosuficiente, é o fim a que visam as ações" Aristóteles.

Desde a Antiguidade, muitos filósofos consideraram a felicidade como o fim último da vida humana. Muitos foram os tratados sobre o que é a felicidade, sobre os caminhos para encontrá-la. Somos felizes? Em que consiste a felicidade?

Aristóteles inicia o livro I da Ética a Nicômacos discorrendo sobre a finalidade das ações que praticamos: "Se há, então, para as ações que praticamos, alguma finalidade que desejamos por si mesma, sendo tudo mais desejado por causa dela, e se não escolhemos tudo por causa de algo mais, evidentemente tal finalidade deve ser o bem e o melhor dos bens. Não terá então uma grande influência sobre a vida o conhecimento deste bem?"(cap. 2).

Epicuro, na Carta sobre a Felicidade, afirma que "o prazer é o início e o fim de uma vida feliz", mas faz uma ressalva:

"Quando dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é a ausência de sofrimentos e de perturbações da alma. Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos" (Epicuro, 2002: 44-45).

Ser feliz é, muitas vezes, uma ideia associada a modelos previamente estabelecidos por nossa sociedade: o consumo desenfreado, a posse de objetos, dinheiro, fama, poder, status e o consumo de drogas lícitas ou ilícitas Se observarmos nossos modos de vida hoje, veremos o quanto investimos na busca da felicidade, na ausência do sofrimento, na anestesia para as dores da existência. Ser feliz é, muitas vezes, uma ideia associada a modelos previamente estabelecidos por nossa sociedade: o consumo desenfreado, a posse de objetos, dinheiro, fama, poder, status. Quanto mais temos, mais tememos perder. Quanto menos temos, mais infelizes parecemos ser diante desse modelo.

Necessitamos atingir os parâmetros estipulados por um modelo econômico/social? Nossa felicidade se resume a quanto podemos gastar? E quando não temos recursos para gastar? E quando gastamos muito e, ainda assim, não atingimos o que considerávamos ser um estado de felicidade?

Há uma forte tendência atual a buscar a felicidade em drogas ou medicamentos. Anestesias para os problemas da existência, felicidade artificial, encontrada em drogas lícitas ou ilícitas. Necessitamos desses recursos? Se minha infelicidade é fruto de um problema que não resolvi, uma droga que provoque um estado de torpor, ou de felicidade artificial resolverá o problema?

Este é o movimento de muitas pessoas hoje. Buscam entorpecer-se para esquecer o que lhes traz sofrimento, o que lhes perturba a existência. Com isso, deixam ao lado os problemas, que ali permanecem, exigindo doses das drogas ou dos medicamentos cada vez maiores, somente assim conseguem não enxergar o que lhes perturba. Quando as dores se tornam insuportáveis, uma opção, muitas vezes, é desistir. Assumir o fracasso da existência e esperar, com a derrota, a morte. Das muitas formas de morte, aquela que faz os dias parecerem sem fim, aquela que nos impede de ser o que somos, a morte em vida, é extremamente dolorosa. Então, mais alguns medicamentos para suportar a espera do fim. É preciso viver desta maneira? Alguém opta, livremente, por esta forma de existência?

Poderia ser um caminho mais adequado buscar formas para solucionar as questões que nos incomodam, ainda que isso implique em algum transtorno, em um pouco de sofrimento, em algumas dores? Talvez seja dolorido afastar os erros, os enganos, as falsas opiniões. Talvez seja triste descobrir que algumas coisas não são como pensávamos que fossem. Mais triste talvez seja perceber que o que escolhemos como caminho não é bem como imaginávamos ser. O que fazer diante de situações dessa natureza? Como produzir vida em nós?

Há quem não queira ser feliz? Lembro de Elizandra, uma moça que atendi que se revoltava toda vez que alguém perguntava a ela se fazia terapia porque buscava a felicidade. Elizandra não queria, e não quer ser feliz. Ser feliz, diz ela, numa sociedade como a nossa, em que se morre de fome e de miséria, em que se vê a violência a toda hora, em cada esquina, é ser alienado. Eu não quero ser alienada. Prefiro morrer a ser feliz dessa maneira. Minha infelicidade me faz buscar, incessantemente, formas de transformar a sociedade. Elizandra envolve-se constantemente em ações sociais, tentando encontrar formas de transformar o quadro de violência e miséria em que vivemos. Assim ela se sente bem, mas não feliz, pois, para ela, se estivesse feliz, não precisaria mais buscar.

Seria Elizandra louca por não querer a felicidade? Ou seria doentio o modo de ser que encontra felicidade gastando no shopping? Como distinguir entre uma "loucura" a ser contida ou uma inquietação criativa, necessária à construção da pessoa? Até que ponto a busca por "restabelecer a normalidade" não é um impedimento, um entrave à construção de um modo de ser singular? Poderia um tratamento que pretende "restabelecer a normalidade" transformar-se em um processo de alienação, acomodando as inquietações e adaptando a pessoa a um modo de ser construído socialmente? Até que ponto esse modo de ser é saudável?

"A felicidade consiste em ser o que se é", afirmava Erasmo de Rotterdam no Elogio da Loucura. Conhecer e respeitar aquilo que somos, as nossas necessidades, encontrar modos para exercer o que somos, pode ser um caminho saudável para a existência. Distante de padrões estipulados socialmente, longe da hipocrisia social que exige a anulação do que se é, como forma de ser, podemos valorizar tudo o que produz vida em nós.
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A Gente Merece Ser Feliz 
(Ivan Lins)

Tudo que eu fiz
Foi ouvir o que o meu peito diz:
"Que apesar de tanta magoa
Vale a pena toda luta
Para ser feliz"

Tudo que eu fiz foi seguir a mesma diretriz
Confiando e acreditando
Que na vida todo mundo pode ser feliz
É preciso crer no coração
Porque se não
Não tem razão de se viver
E eu quero ver
Nascer um tempo bom
Meu peito diz:
"Coracao da gente é igual país"
Não deu certo uma mudanca, você muda de esperança

Porque a gente merece ser feliz
Porque a gente merece ser feliz
Porque a gente merece ser feliz
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E pra vc, o que é felicidade? Tem a ver com a descrita na Constituição? (educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados).
E isto quer dizer que uma vez conquistadas tais coisas chega-se ao estado pleno de "ser feliz"?
Entendo felicidade como um horizonte flutuante. Vivemos à busca, mas se encontramos perdemos o motivo de viver. Penso que seja a tal motivação que nos faz acordar todos os dias. Isto quer dizer que se o Estado cumprir com o que está garantindo em lei, morreremos no dia seguinte? O que faremos depois? Para onde iremos e em busca do quê? Ou será que o Estado para nos "proteger" e garantir a vida, não nos suprirá em tais necessidades? A mente deste Cristovam Buarque é um mistério.


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*Monica AiubFilósofa Clínica. Mestre em Filosofia da Mente (UFSCAR-SP). Professora Titular do curso de Especialização em Filosofia Clínica do Instituto Packter. Autora dos livros: Filosofia Clínica e Educação (WAK, 2005); Para Entender Filosofia Clínica (WAK, 2004); Sensorial & Abstrato: como avaliá-lo em Filosofia Clínica (APAFIC, 2000).


domingo, 7 de novembro de 2010

Meus Versinhos 7


Diariamente
(Monique Desiderio)

Todos os dias eles estão lá. 
Todos os dias.
Eu os vejo, mas penso que seria melhor não notá-los.
E finjo não ver.
Enquanto me guardo no cinismo de quem não se importa.
O pior é que me importo.

E fodam-se as políticas públicas,
De um governo que merecia tomar no cú de hora em hora.
E fodam-se os carmas, destinos e predestinações.
A fome bate hoje.
O frio, a sede e o abandono também.
Não esperam a próxima vida.

Cheiram mal. Todos.
Eles, por falta de banho, sabonete, casa.
Ferida social necrosada (pena não poder amputar!)
A África é aqui!

Todos os dias eles estão lá.
Todos os dias.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Como Criar Um Deliquente

Como Criar Um Deliquente
(Autor Desconhecido)

1- Comece na infância a dar ao seu filho tudo o que ele quiser, assim quando ele crescer ele acreditará que o mundo tem obrigação de lhe dar tudo o que deseja.

2- Quando ele disser nomes feios, ache graça, isso o fará considerar-se importante e desconsiderar aos demais desde pequeno.

3- Nunca lhe dê orientação religiosa, espere até que tenha 21 anos e decida por si mesmo, a sociedade há de auxiliá-lo, mesmo que ele se torne um fanático e seja explorado financeiramente.

4- Apanhe tudo o que ele deixar jogado (roupas, livros, comida), faça tudo para que ele aprenda a jogar a responsabilidade dele sobre os outros.

5- Discuta com freqüência na frente dele, principalmente nos 7 primeiros anos, assim ele não ficará chocado quando o lar dele se desfizer mais tarde.

6- De-lhe todo o dinheiro que ele quiser, nunca o deixe ganhar seu próprio dinheiro, assim você o poupa de passar pelas mesmas dificuldades que você passou, mesmo quando ele acabar com todo o patrimônio dele.

7- Satisfaça todos os seus desejos de comida, bebida, conforto, afinal isto poderia acarretar frustrações prejudiciais, mesmo que ele fique obeso, com problemas na coluna, visuais, tendências homossexuais por hormônios na alimentação.

8- Tome o partido dele contra os vizinhos, professores, policiais, afinal ninguém tem o direito de educar seu filho, só a TV e a empregada.

9- Não o oriente quanto as amizades, mesmo que os parentes lhe avisem que parecem traficantes, e quando ele se meter em encrenca séria, dê a desculpa que nuca conseguiu dominá-lo.

10- Quando estiver em profundo desgosto com a vida, console-se, diga que é o seu destino e o dele, que Deus quis assim...
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Vivemos sob uma idéia (má idéia) de que a pobreza gera deliquencia. Ideia esta sustentada por uma midia comprometida em arrecadar milhões pra apresentar a solução à este problema social (vide Criança Esperança, Instituto Ressoar...). Não seja alienado! Acreditar que cada criança favelada é um bandido em potencial, é mentira. Já atuei intensamente em favelas através destes projetos sociais. Convivo com pessoas de classe média alta todos os dias. Tem gente boa e "espertalhões" em todos os lugares. A ideia de que um hiperconsumo de informação, superconforto, nenhuma privação na vida, resulte em individuos bem educados tb é mentirosa. Valores morais não dependem de valor monetário. Quero muito ser mãe. Tenho me planejado pra isso. Confesso que a responsabilidade pesa, as vezes, e desencoraja. Me assusta ver mães e pais colocando filhos no mundo e os criando de qualquer jeito. E eu não estou falando de filhos não planejados e nem de falta de dinheiro. Estou falando de valores não arrumados, mal firmados. Conheço pessoas que não planejaram a maternidade, tiveram filhos e abraçaram de imediato a responsabilidade de prepará-los pra vida com o que eles realmente precisariam carregar, que são os bons valores morais, éticos e religiosos (além de um bom estudo, é claro!). Conheço pessoas que planejaram, tiveram filhos, deram a eles TUDO o que o dinheiro poderia comprar em certa situação, mas os deixaram perdidos; vc olha pros filhos e não vê o coração dos pais (e nem o deles). Eu queria muito conseguir criar meus filhos de modo que vcs me vissem neles (mais do que na semelhança fisica). Quero ter tempo de educá-los, de estar com eles, de conviver. Quero não precisar compensar minha ausência com presentes fora de data e hora. Que eles tenham boas referências em casa. Que saiam pra vida preparados (eu disse preparados e não prontos). Que tenham um olhar doce sobre as coisas, sem deixar de criticá-las. Enfim, eu quero muitas outras coisas que não cabem à esta lista, mas acho um bom exercicio pensar onde quero chegar, pra conseguir planejar como fazê-lo. Eles não se criam sozinhos, acredite! rs. E nem estarão prontos por obra do acaso. Algo precisa ser feito e com certeza eu não vou negligenciar e nem terceirizar isto.

Sucesso a todos, nesta empreitada!
Beijo grande.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Amigo, Um Ensaio

Já usei muito este texto na vida. Tempos outros, em que eu acreditava em tantas coisas outras.
Há muito não sou tão doce assim. Esperançosa nas minhas relações de amizade. Exposta, aberta, frágil. Nem considero este, um estado permanente de sentir assim. Mas é como me abro hj pra vida. É um texto bobo, que fala de amizade, de uma maneira tb boba. As coisas não são tão simples, poéticas e bonitas assim, na vida real. Na vida real, o bicho pega e ninguém vê. E os amigos precisam de muito mais do que textos bonitos. Mas acho que hj estou boba. E assim quero estar.

Então, em nome dos velhos tempos...
Aos meus! Sempre queridos!
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Amigo, Um Ensaio
(Marcelo Batalha)

Difícil querer definir amigo.

Amigo é quem te dá um pedacinho do chão, quando é de terra firme que você precisa, ou um pedacinho do céu, se é o sonho que te faz falta.

Amigo é mais que ombro amigo, é mão estendida, mente aberta, coração pulsante, costas largas.

É quem tentou e fez, e não tem o egoísmo de não querer compartilhar o que aprendeu.

É aquele que cede e não espera retorno, porque sabe que o ato de compartilhar um instante qualquer contigo já o realimenta, satisfaz.

É quem já sentiu ou um dia vai sentir o mesmo que você.

É a compreensão para o seu cansaço e a insatisfação para a sua reticência.

É aquele que entende seu desejo de voar, de sumir devagar, a angústia pela compreensão dos acontecimentos, a sede pelo "por vir".

É ao mesmo tempo espelho que te reflete, e óleo derramado sobre suas águas agitadas.

É quem fica enfurecido por enxergar seu erro, querer tanto o seu bem e saber que a perfeição é utopia. É o sol que seca suas lágrimas, é a polpa que adocica ainda mais seu sorriso.

Amigo é aquele que toca na sua ferida numa mesa de chopp, acompanha suas vitórias, faz piada amenizando problemas.

É quem tem medo, dor, náusea, cólica, gozo, igualzinho a você. É quem sabe que viver é ter história pra contar.

É quem sorri pra você sem motivo aparente, é quem sofre com seu sofrimento, 
é o padrinho filosófico dos seus filhos
É o achar daquilo que você nem sabia que buscava.

Amigo é aquele que te lê em cartas esperadas ou não, pequenos bilhetes em sala de aula, mensagens eletrônicas emocionadas.

É aquele que te ouve ao telefone mesmo quando a ligação é caótica, com o mesmo prazer e atenção que teria se tivesse olhando em seus olhos.

Amigo é multimídia. 
Olhos... amigo é quem fala e ouve com o olhar, o seu e o dele em sintonia telepática.

É aquele que percebe em seus olhos seus desejos, seus disfarces, alegria, medo.

É aquele que aguarda pacientemente e se entusiasma quando vê surgir aquele tão esperado brilho no seu olhar, e é quem tem uma palavra sob medida quando estes mesmos olhos estão amplificando tristeza interior.

É lua nova, é a estrela mais brilhante, é luz que se renova a cada instante, com múltiplas e inesperadas cores que cabem todas na sua íris.

Amigo é aquele que te diz "eu te amo", sem qualquer medo de má interpretação.

Amigo é quem te ama "e ponto". É verdade e razão, sonho e sentimento.

Amigo é pra sempre, mesmo que o sempre não exista.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Canção das Mulheres - Lya Luft

Canção das mulheres
(Lya Luft)*

Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.

Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.

Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.

Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.

Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.

Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.

Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.

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*Lya Fett Luft (Santa Cruz do Sul, 15 de setembro de 1938) é uma romancista, poetisa e tradutora brasileira. É também professora universitária e colunista da revista semanal VejaIniciou sua vida literária na década de 1960, como tradutora de literaturas em alemão e inglês. Luft já traduziu para o português mais de cem livros. Entre esses, destacam-se traduções de Virginia Wolf, Rainer Maria Rilke, Hermann Hesse, Doris Lessing, Günter Grass, Botho Strauss e Thomas MannFormada em letras anglo-germânicas, Lya tem mestrados em literatura brasileira e linguística aplicada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 >> Mudou a vista, Mudou o ponto

"Tropa de Elite 2": mudou a vista, mudou o ponto
Perplexidade que filme pode gerar é convite de não rendição às circunstâncias e de reencontro com nossa humanidade

No primeiro "Tropa de Elite", era o mano a mano, aquilo que a psicodinâmica chama de pedagogia de violência, a tese da eliminação do crime pela eliminação do criminoso. Em "Tropa de Elite 2", entram a política, a sociedade e os direitos humanos.

Os personagens são mais complexos e interessantes. O professor militante e o agora tenente-coronel Nascimento se estranham, mas se encontram, mesmo sem o querer, na realidade dura que os envolve, em que um é indispensável ao outro.

Quando o coronel "cai pra cima" e começa a conhecer mais a fundo a sordidez entranhada no "sistema", já fica claro que, neste filme, a polícia é coadjuvante. Agora, o assunto é política, em que se choca o ovo da serpente da violência policial e das relações espúrias entre poder de Estado e delinquência.

A escória da polícia se transforma em força auxiliar de ambições políticas e, com isso, ganha licença irrestrita para o crime. Nascimento e seus seguidores são manipulados no território que não tem mais fronteiras legais porque a lei que vale já é a da própria bandidagem.

Como enfrentar? O mano a mano revela-se inútil porque a mão que joga combustível na violência não está nas ruas, no tiroteio do dia a dia. O sistema corrupto se alimenta do objetivo de permanecer no poder a qualquer custo e essa é uma das principais chaves para a degradação da política e do próprio tecido social.

É muito bem construída a trajetória da mudança de visão de Nascimento. Só consegue fazê-lo por meio do encontro com sua própria humanidade, no sofrimento pessoal de perdas e na relação conflituosa com o filho, ao lutar para compreendê-lo e ser compreendido por ele.

Daí vem a consciência de sua impotência, de ser pequena presa numa teia incomparavelmente maior do que suas estratégias e possibilidades de reagir. A saída é radicalizar no mundo da política, é tentar atingir o cerne da armadilha.

Depressão Política
O final me deu certa depressão política. É forte, mas passa uma sensação de generalização que não é boa porque reafirma o senso comum de que se sabe qual é o exato endereço do Mal. Destoa da capacidade de lidar com a complexidade do tema, presente em todo o filme. E se perde um pouco a importantíssima cortina levantada em relação ao voto, à responsabilidade de cada cidadão.

Recebi há alguns dias um texto de Rachel de Queiroz (1910-2003), escrito em 1947 para "O Cruzeiro". Ela alertava os eleitores do valor daquilo que se entrega a maus políticos: "Vão lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para eles comandarem... Entregamos a esses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra... E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador."

A cartada radical de Nascimento é pegar o inimigo não pela força das armas, mas pela coragem de expor o sistema, trincando-o. O trânsito do primeiro para o segundo "Tropa de Elite" é o coração da discussão proposta por esse belo filme, de interpretações magníficas.

Nesse sentido, a impotência e a perplexidade que podem baixar quando a luz se acende no cinema são um convite de não rendição às circunstâncias. No limite, como aconteceu com Nascimento, todos vamos querer nos reencontrar com nossa humanidade, exigir que ela seja reconhecida.

Há sempre um ponto de retorno dado pelos indivíduos ou pela trama social, pela cultura, pela espiritualidade ou pelas instituições, entre elas a política. Que é das mais importantes, como se vê quando nos deparamos com as consequências de sua deterioração.
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(Escrito por Marina Silva* e publicado pela Folha de São Paulo em 27/10/2010)

*Marina Silva: é senadora da República (PV-AC), foi candidata à Presidência da República pelo Partido Verde nesta eleição e ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula (2003-2008).

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Voltando pra Casa (outra vez)

Morrendo de saudades de vcs!
Depois de uma breve temporada de atividades intensas (outras), retomo com um novo versinho (no post abaixo).
Espero que gostem.

(com uma fome imensa de escrever por aqui. esse espaço me fez muita falta, nestes dias. ideias e sentimentos pipocando aqui dentro. vou postando aos poucos. na medida em que estiverem organizados dentro de mim (ou não)). 

Boa Semana.
Beijo em todos.


Meus Versinhos 6

Menina Dos Olhos de Mel
(Monique Desiderio)

Menina dos olhos de mel
Nunca larga seu papel
Seu brinquedo predileto
Risca, pinta e dobra certo.

Guarda pra não perder
Escondidinho sem esquecer
Olha, retoca, conserta
Risca, pinta e a dobra (novamente) acerta.

Ela vai crescer
Seu mundo também
E vai aprender
Que é preciso ir além.

Há quem diga que vai sofrer
E as cores não vão valer

(há na vida os que passam sem sonhar)

Menina dos olhos de mel
Por favor, não deixe de crer
A estrada vai além do que se vê
E o pôr-do-sol é belo e certo.
O pôr-do-sol é belo e certo.
É belo.
É certo.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Tá Mais ou Menos Assim

Cansada...


Ficarei sem postar por alguns dias.
Beijo em todos.
Até!

Eleições 2010 - Lista de Candidatos

Eis que o dia 3 de outubro bate à porta.

Lembrando: 
1) Os votos a Deputado Estadual e Federal são na legenda do partido. O voto não vai direto pro candidato.
2) Os demais votos são todos diretos e majoritários. 
3) Precisamos eleger 2 senadores.
4) O voto eletrônico é por números, portanto seria melhor levá-los anotados.

Segue abaixo a ordem das telas de votação:
1) deputado estadual;
2) deputado federal;
3) senador primeira vaga;
4) senador segunda vaga;
5) governador de estado;
6) presidente da República.

Minha listinha ficou assim:
1) deputado estadual - Marcelo Freixo 50123 (PSOL)
2) deputado federal - Filipe Pereira 2020 (PSC)
3) senador primeira vaga - Waguinho 707 (PTdoB)
4) senador segunda vaga - nulo
5) governador de estado - Sérgio Cabral 15 (PMDB)
6) presidente da República - Marina Silva 43 (PV)