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segunda-feira, 28 de março de 2011

A Gente Se Acostuma a Tudo

Estava olhando pro mar, hoje, e pensando no quanto é bom viver no Rio. Gostoso demais!
Daí me veio à mente a coação, a invasão e o medo que senti enquanto era assaltada, esta semana. Sensação horrorosa. No dia, logo depois do susto, pensei imediatamente que seria melhor e diferente se morássemos numa outra cidade, estado ou país. Senti vergonha da absurda falta de segurança da minha (ou nossa) Cidade Maravilhosa. São muitos os altos e baixos, os mistos de beleza e caos que precisam ser administrados por nós, que por aqui teimamos em fazer morada. Isso, realmente, cansa!
Enfim, passado o susto e sob os efeitos da maresia, concluí que apesar dos pesares o Rio de Janeiro continua lindo e que a criminalidade, infelizmente faz parte. Na hora, me veio a mente uma série de crônicas do sem papas na lingua João Ubaldo Ribeiro ("A Gente se Acostuma a Tudo") que andei lendo no domingo anterior a este.

A gente se acostuma realmente a tudo! Ser assaltado não "faz parte". Não mesmo! Está errado! Fomos nos acostumando, com o passar dos anos, com a ridicula fragilidade da nossa segurança pública. E achamos normal o ônus que pagamos pelo desfrute de uma Cidade tão exuberante, elegante e bela. Mas não pode ser normal. Não pode ser normal o que acontece, em casos bem piores ao meu, onde crianças são levadas reféns, mulheres são molestadas, pessoas são privadas de liberdade e obrigadas a limparem a conta bancária num movimento relâmpago. Não. Não pode ser assim. Não é aceitável.

Ando agora ainda mais cautelosa, mas não me acostumo e nem quero fazê-lo. O pensamento natural é o de que "faz parte", mas não faz não. Com um pouquinho de pensamento critico e coragem pra pensar contra a direção do fluxo da idéia da maioria, consegue-se chegar a conclusão de que tal situação não dá pra ser. Não é normal. Não pode cair na banalidade. Não entra na veia.

Temos potencial pra mais. Tenho certeza disso. Temos vocação pra fazer mais do que observar o "perdeu" de quem "deu mole" ao lado. Podemos fazer mais do que andar de vidro fechado e tomar as devidas precauções para que não chegue até nós, nem nos afete. Não dá pra ser assim, definitivamente. Refém? Não. Tem que ser diferente. É possível. Tem que ser.

Fim de Tarde no Portão - Stênio Marcius

Amo!
Ouvindo pra caramba nos últimos dias.
Pra quem se delicía com poesia bem construída e música boa.
Um viva à sensibilidade desse cara.
Boa semana a todos.
Beijo grande.




Fim De Tarde No Portão
(Stênio Marcius)

Fim de tarde no portão
A cabeça branca ao relento
Teimosia de paixão
Faz das cinzas renascer alento

Na estrada o seu olhar
Procurando um vulto conhecido
Espera um dia abraçar
Quem diziam já estar perdido

O seu amor é tão forte
Mais que o inferno e a morte
São torrentes que arrebentam o chão
Mais fácil secar os mares
Apagar a estrela antares
Que arrancar o amor de seu coração
Fim de tarde se debruça no portão

Mas um dia aconteceu
E o moço retornou mendigo
O pai depressa correu
E abraçou o filho tão querido

Tragam roupas e o anel
Calçem logo os seus pés, milagre!
Vinho do melhor tonel
Tanta alegria em mim não cabe

O seu amor é tão forte...
Fim de tarde está deserto o portão...

quinta-feira, 17 de março de 2011

Nem Todo Mundo

Nem todo mundo diz o que sente
Nem todo mundo gosta de ouvir
Nem todo mundo sabe o que quer
Nem todo mundo acerta sempre nas escolhas que faz
Nem todo mundo é feliz o tempo todo
Nem todo mundo é infeliz o tempo todo
Nem todo mundo diz sempre a verdade
Nem todo mundo vive sempre a verdade
Nem todo mundo é de verdade
Nem todo mundo guarda segredos
Nem todo mundo tem em quem confiar
Nem todo mundo erra o tempo todo
Nem todo mundo é seguro o tempo todo
Nem todo mundo mente
Nem todo mundo é como a gente queria que fosse
Nem todo mundo sabe o que vai fazer amanhã
Nem todo mundo se deixa levar
Ninguém tem todas as respostas
Ninguém consegue elaborar sempre as melhores perguntas
Ninguém é pontual o tempo todo
Ninguém é tão sensato que não cometa erros ridiculos de vez em quando
Ninguém é tão racional o tempo todo
Ninguém é só emoção o tempo todo
Ninguém é tão burro quanto parece ser. Muitas vezes fingi-se ser
Ninguém é tão esperto quanto se mostra

São tantas imperfeições. Viver tem disso!
E eu não sei quem foi o pretencioso que sugeriu uma "lógica pra vida".
Lógica? Como? As coisas que julgamos fazer sentido nem sempre são de verdade.
Em sua maioria, são farsas, modelos pre-estabelecidos, leis castradoras.
Castrando especialmente a verdade das coisas.

Daí, viver é quase nada do que se entende de fato.
É mais coerente dizer que viver é decidir, do que entender.
Vivemos sob constantes "pontos de decisão". Decidimos algumas coisas e aceitamos outras. Fato!
A eterna balança do Principio do Prazer x Principio da Realidade.
E o que sobra, é recalque.
E assim eu poderia resumir a vida, hoje: a gente faz o que pode e não o que quer. O que a gente quer, normalmente nem a gente sabe. Já ficou lá atras.
Já o desejamos antes, e por força de diversas leis e proibições tal realização acabou se transformando em desprazer e foi enterrada no inconsciente. Foi recalcada.
E o recalque é tão simplesmente isto: O que não dá pra ser a gente engole. E ponto. Ou quase um ponto.
Daí aprendemos a fingir, a dissimular, a mentir, a enganar... aos outros e especialmente a nós mesmos.

Um sistema de leis, proibições e punições, criado para alimentar e retroalimentar inverdades.
No fundo, estamos todos presos em algum lugar dentro de nós mesmos, morrendo de medo  de colocar a cara pra fora. E este medo não é do mundo. É o medo que temos de nós mesmos. Medo da autodestruição.

Normal ser assim, absolutamente.
Se não podemos afirmar que "todo mundo" é um monte de coisas, isto é garantido que todo mundo tem: medo de não ter controle sobre as suas pulsões de morte, de destruição. E assim ser sucumbido por ela (s).


O que você faria se o "cosmos" ou a vida, ou Deus te liberasse por um dia? Dos pesos, das leis e das regras?
O que você tem guardado aí dentro? O que correria pra realizar? Qual o seu principio de prazer?
E o que te traz pra realidade?
Já pensou nisso?


*Princípio do Prazer - é o querer imediatamente algo satisfatório e querê-lo cada vez mais. É a tendência que, em busca da descarga imediata da energia psíquica, não quer saber de mais nada - nem do real, nem do outro, nem mesmo da sobrevivência do próprio sujeito. Não está necessariamente ligado a Pulsão de Vida, mas de forma mais profunda a Pulsão de Morte pois se o desejo do homem for o repouso, o imutável, a fuga do conflito, somente a morte poderá satisfazer tal desejo.

*Princípio da Realidade - princípio que nos faz compreender e aceitar que nem tudo o que se deseja é possível, que se for possível nem sempre é imediato, que nem sempre pode ser conservado e muitas vezes não pode ser aumentado. Impõe-nos limites internos e externos.