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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 >> Mudou a vista, Mudou o ponto

"Tropa de Elite 2": mudou a vista, mudou o ponto
Perplexidade que filme pode gerar é convite de não rendição às circunstâncias e de reencontro com nossa humanidade

No primeiro "Tropa de Elite", era o mano a mano, aquilo que a psicodinâmica chama de pedagogia de violência, a tese da eliminação do crime pela eliminação do criminoso. Em "Tropa de Elite 2", entram a política, a sociedade e os direitos humanos.

Os personagens são mais complexos e interessantes. O professor militante e o agora tenente-coronel Nascimento se estranham, mas se encontram, mesmo sem o querer, na realidade dura que os envolve, em que um é indispensável ao outro.

Quando o coronel "cai pra cima" e começa a conhecer mais a fundo a sordidez entranhada no "sistema", já fica claro que, neste filme, a polícia é coadjuvante. Agora, o assunto é política, em que se choca o ovo da serpente da violência policial e das relações espúrias entre poder de Estado e delinquência.

A escória da polícia se transforma em força auxiliar de ambições políticas e, com isso, ganha licença irrestrita para o crime. Nascimento e seus seguidores são manipulados no território que não tem mais fronteiras legais porque a lei que vale já é a da própria bandidagem.

Como enfrentar? O mano a mano revela-se inútil porque a mão que joga combustível na violência não está nas ruas, no tiroteio do dia a dia. O sistema corrupto se alimenta do objetivo de permanecer no poder a qualquer custo e essa é uma das principais chaves para a degradação da política e do próprio tecido social.

É muito bem construída a trajetória da mudança de visão de Nascimento. Só consegue fazê-lo por meio do encontro com sua própria humanidade, no sofrimento pessoal de perdas e na relação conflituosa com o filho, ao lutar para compreendê-lo e ser compreendido por ele.

Daí vem a consciência de sua impotência, de ser pequena presa numa teia incomparavelmente maior do que suas estratégias e possibilidades de reagir. A saída é radicalizar no mundo da política, é tentar atingir o cerne da armadilha.

Depressão Política
O final me deu certa depressão política. É forte, mas passa uma sensação de generalização que não é boa porque reafirma o senso comum de que se sabe qual é o exato endereço do Mal. Destoa da capacidade de lidar com a complexidade do tema, presente em todo o filme. E se perde um pouco a importantíssima cortina levantada em relação ao voto, à responsabilidade de cada cidadão.

Recebi há alguns dias um texto de Rachel de Queiroz (1910-2003), escrito em 1947 para "O Cruzeiro". Ela alertava os eleitores do valor daquilo que se entrega a maus políticos: "Vão lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para eles comandarem... Entregamos a esses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra... E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador."

A cartada radical de Nascimento é pegar o inimigo não pela força das armas, mas pela coragem de expor o sistema, trincando-o. O trânsito do primeiro para o segundo "Tropa de Elite" é o coração da discussão proposta por esse belo filme, de interpretações magníficas.

Nesse sentido, a impotência e a perplexidade que podem baixar quando a luz se acende no cinema são um convite de não rendição às circunstâncias. No limite, como aconteceu com Nascimento, todos vamos querer nos reencontrar com nossa humanidade, exigir que ela seja reconhecida.

Há sempre um ponto de retorno dado pelos indivíduos ou pela trama social, pela cultura, pela espiritualidade ou pelas instituições, entre elas a política. Que é das mais importantes, como se vê quando nos deparamos com as consequências de sua deterioração.
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(Escrito por Marina Silva* e publicado pela Folha de São Paulo em 27/10/2010)

*Marina Silva: é senadora da República (PV-AC), foi candidata à Presidência da República pelo Partido Verde nesta eleição e ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula (2003-2008).

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Voltando pra Casa (outra vez)

Morrendo de saudades de vcs!
Depois de uma breve temporada de atividades intensas (outras), retomo com um novo versinho (no post abaixo).
Espero que gostem.

(com uma fome imensa de escrever por aqui. esse espaço me fez muita falta, nestes dias. ideias e sentimentos pipocando aqui dentro. vou postando aos poucos. na medida em que estiverem organizados dentro de mim (ou não)). 

Boa Semana.
Beijo em todos.


Meus Versinhos 6

Menina Dos Olhos de Mel
(Monique Desiderio)

Menina dos olhos de mel
Nunca larga seu papel
Seu brinquedo predileto
Risca, pinta e dobra certo.

Guarda pra não perder
Escondidinho sem esquecer
Olha, retoca, conserta
Risca, pinta e a dobra (novamente) acerta.

Ela vai crescer
Seu mundo também
E vai aprender
Que é preciso ir além.

Há quem diga que vai sofrer
E as cores não vão valer

(há na vida os que passam sem sonhar)

Menina dos olhos de mel
Por favor, não deixe de crer
A estrada vai além do que se vê
E o pôr-do-sol é belo e certo.
O pôr-do-sol é belo e certo.
É belo.
É certo.