:: Atualizado quase que Diariamente ::

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A Difícil Busca da Autorrealização - Leonardo Boff

Minha mãe tem um costume muito antigo de colar lembretes em lugares estratégicos às vistas dela. Ultimamente eles estão presos no azulejo, na parede em frente a pia da cozinha. Normalmente são palavras de esperança, de proteção. Ela diz que "é pra não esquecer", e que enquanto ela cuida das coisas ela ora, medita sobre, pensa na gente e nos apresenta a Deus, em cuidado. Dizem que pra cada filho em pé tem uma mãe de joelhos. A minha está há tempos com os dela cheios de ziquizira. Sério! Os joelhos da minha mãe estão bichados já há alguns anos. Culpa dos meus irmãos! (Obrigada mãe! Um dia serão os meus.)

As lutas da minha mãe são um pouco diferentes das minhas. O meu "não esquecer" é outro e a pia da cozinha seria o ultimo lugar que eu colocaria, hoje. Pra funcionar comigo, eu precisaria agendar no blackberry, com recorrência diária e alarme ativo (utilizando o soneca a cada 5 min).

Encontrei um texto bem bacana do Leo Boff que queria compartilhar por aqui hoje. Tem a ver com os meus "não esqueceres" diários e de tempos em tempos: 
1- Não me perder;
2- Não perder meus valores;
3- Não me perder do Alto, do Sublime, do meu Protetor;
4- Não esgotar meus recursos (dentro e na vida);
5- Não correr atras do vento;
6- ....
7- ...

Como toda e qualquer boa lista de intenções, nem sempre consigo cumpri-la. Mas é sempre um ponto de partida. E de retorno. Há sempre a possibilidade de rearranjo, de reajuste, avaliações, reavaliações, e de tentar de novo.

É um "não esquecer" pra quem não se finge de morto. Pra quem encara os monstros nos olhos. Pra quem sai à vida e à luta todos os dias. Pra quem quer melhorar de vida. Pra quem quer comprar uma casa maior, um carro melhor. Pra quem quer mais conforto, pra si e pros queridos da casa. Pra quem tem chefe e pra quem é o chefe. Pra quem tem medo de perder o emprego e pra quem tem medo de perder o negócio. Pra quem lida com pressão de prazos o tempo inteiro. Pra quem tá vivo. Pra quem pulsa. Pra quem declara imposto de renda e se revolta com a garfada que leva. Pra quem lida com a politicagem do mundo corporativo e acadêmico. Pra quem tem sonhos e é ambicioso. Pra quem não desistiu de avançar, não estacionou. Pra quem corre mais do que dá. Pra quem vive negociando tempo, encaixando/apertando coisas aqui e ali. Pra quem senta a mesa com o dono. Pra quem acha importante ter uma boa apresentação pessoal. Pra quem, por vezes, mente com a cara mais lavada do mundo, diante de um perrengue. Pra quem é estudado, tem certificações. Pra quem questiona e repensa. Pra quem se destaca, pensa e age diferente da massa. Pra quem  consome bens naturais exaustivamente (energia, lixo). Pra mim e quem sabe, pra vc.
  
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A Difícil Busca da Autorrealização
(por Leonardo Boff em 07/novembro/2011)

Hoje vigora vastamente uma erosão de valores éticos que normalmente eram vividos e transmitidos pela família e depois pela escola pela sociedade. Essa erosão fez com que as estrelas-guia do céu da ética ficassem encobertas por nuvens de interesses danosos para a sociedade e para o futuro da vida e do equilíbrio da Terra.

Não obstante esta obscuridade importa reconhecer também a emergência de novos valores ligados à solidariedade internacional, ao cuidado para com a natureza, à transparência nas relações sociais e à rejeição de formas de violência política repressiva e da transgressão dos direitos humanos.

Mas nem por isso diminuiu a crise de valores, especialmente no campo da economia de mercado e das finanças especulativas que são as instâncias que definem os rumos do mundo e o dia-a-dia dos assalariados, vivendo sob permanente ameaça de desemprego.

As crises recentes denunciaram máfias de especuladores instalados nas bolsas e nos grandes bancos cujo volume de rapinagem de dinheiros alheios quase levou à derrocada todo o sistema financeiro mundial.

Ao invés de estarem na cadeia, depois de pequenos rearranjos, tais velhacos voltaram ao antigo vício da especulação e do jogo de apropriação indébita dos “commons”, dos bens comuns da humanidade (água, sementes, solos, energia, etc.).

Esta atmosfera de anomia e de vale-tudo que se espraia também na política, faz com que o sentido ético fique embotado e as pessoas diante da geral corrupção se sintam impotentes e condenadas à amargura ácida e à resignação humilhante.

Neste contexto muitos buscam sentido na literatura de autoajuda, feita de cacos de psicologia, de sabedoria oriental, de espiritualidade com receitas para a felicidade completa, ilusória, porque não se sustenta nem se apoia num sentido realista e contraditório da realidade.

Outros procuram psicólogos e psicanalistas que recebem dicas melhor fundadas. Mas no fundo, tudo termina com os seguintes conselhos: “dada a falência das instâncias criadoras de sentido como as religiões e as filosofias, devido à confusão de visões de mundo, da relativização de valores e do vazio de sentido existencial, procure você mesmo seu caminho, trabalhe seu Eu profundo, estabeleça você mesmo referências éticas que orientam sua vida e busque sua autorrealização.

“Autorrealização”: eis uma palavra mágica, carregada de promessas.

Não serei eu que vá combater a “autorrealização” depois de escrever "A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana” (Vozes 1999), livro que estimula as pessoas a encontrarem em si mesmas as razões de uma auto-realização sensata.

Esta resulta da sábia combinação da dimensão de águia e de galinha. Quando devo ser galinha, quer dizer, concreto, atento aos desafios do cotidiano e quando devo ser águia que busca voar alto para, em liberdade, realizar potencialidades escondidas. Ao articular tais dimensões, cria-se a possibilidade de uma autorrealização bem sucedida.

Penso que esta autorrealização só se consegue se incorporar seriamente três outras dimensões. A primeira é a dimensão de sombra. Cada um possui seu lado autocentrado, arrogante e outras limitações que não nos enobrecem. Esta dimensão não é defeito mas marca de nossa condição humana, feita da união dos contrários. 
Acolher tal sombra, cuidar que seus efeitos maléficos não atinjam os outros, nos faz humildes, compreensivos das sombras alheias e nos permite uma experiência humana mais completa e integrada.

A segunda dimensão é a relação com os outros, aberta, sincera e feita de trocas enriquecedoras. Somos seres de relação. Não há nenhuma autorrealização cortando os laços com os demais.

A terceira dimensão é alimentar certo nível de espiritualidade. Com isso não quero dizer que a pessoa deva se inscrever em alguma confissão religiosa. Pode até ocorrer mas não é imprescindível. O importante é abrir-se ao capital humano/espiritual que, ao contrário do capital material, é ilimitado e feito de valores como a verdade, a justiça, a solidariedade e o amor.

É nesta dimensão que emerge a questão impostergável: que sentido tem, afinal, minha vida e o inteiro universo? Que posso esperar? A volta ao pó cósmico ou ao abrigo num Útero divino que me acolhe assim como sou?

Se esta última for a resposta, a autorrealização traz profundidade e uma felicidade íntima que ninguém pode tirar.


*Leonardo Boff é teólogo e filósofo.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ferrugem - Djavan



Ferrugem
(Djavan)

Mera luz
que invade a tarde cinzenta
e algumas folhas deitam
sobre a estrada

O frio é o agasalho
que esquenta
O coração gelado
quando venta
movendo a água
abandonada

Restos de sonhos
sobre um novo dia
amores nos vagões
vagões nos trilhos
Parece que quem parte
é a ferrovia
Que mesmo não te vendo te vigia
Como mãe
Como mãe
que dorme olhando os filhos
com os olhos na estrada

E no mistério
solitário da penugem
vê-se a vida correndo parada
como se não existisse chegada
Na tarde
distante
Ferrugem
ou nada
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Voltando a escrever por aqui.
O tempo é curto, mas a vontade é grande.
Falando sempre de coisas aqui de dentro.
Falando de mim, mas nem sempre, por mim ou somente para mim.
Um pensamento, enquanto dentro, é só meu, ou só seu. Uma voz anunciada cria eco, se une a outros pensamentos, outras pessoas. Vira nosso. É o poder da identificação. Que só é possivel quando o pensamento vem morar fora da cabeça da gente. E é por isso, especialmente, que escrevo e compartilho (besteiras, bobeiras, sentimentos, reivindicações...). Porque acredito no poder pacificador da identificação. Porque é justo que seja assim.
Não estamos sós. Nem eu, nem você. Nem os nossos monstros.

Bom dia!

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Escolhas

Aviso afixado na porta de um consultório médico:

O resfriado escorre quando o corpo não chora.

A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições.

O estômago arde quando as raivas não conseguem sair.

O diabetes invade quando a solidão dói.

O corpo engorda quando a insatisfação aperta.

A dor de cabeça deprime quando as duvidas aumentam.

O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar.

A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável.

As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas.

O peito aperta quando o orgulho escraviza.

O coração infarta quando chega a ingratidão.

A pressão sobe quando o medo aprisiona.

As neuroses paralisam quando a"criança interna" tiraniza.

A febre esquenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade.
  
P.S. Identifique o que o prejudicou e busque ajuda, numa conversa com amigo(s) ou com um profissional - Psicólogo, Assistente Social ou Psiquiatra - a partir daí, você pode vir a encontrar o caminho pra curar-se!!

IMPORTANTE: Tais informações não deverão, em hipótese alguma, serem utilizadas como substituto para um diagnóstico médico ou para tratamento de qualquer doença. É imprescindível uma consulta com Médico especializado.

Assim sendo, desejo que você se cuide ... porque sua SAÚDE e sua VIDA dependem, também, de suas ESCOLHAS!


segunda-feira, 18 de julho de 2011

Fortalecendo o Sistema Imunológico

Porque a vida é muito corrida. Porque o descanso é pouco. Porque o desgaste é certo. Não dá tempo de ficar doente. Mas é justamente nesta hora que a casa cai pra gente. Nosso sistema imunológico (mal tratadinho pra caramba) deixa a gente na mão. E o corpo reclama com aquela gripe recorrente. Com aquela virose que passa a km e nos acha! Deem uma olhada no que eu separei. Talvez ajude.
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Fatores que podem acarretar prejuízos para o sistema imunológico:
  • Estresse físico
  • Estresse emocional 
  • Alimentação desequilibrada


Os alimentos que mantém o sistema imunológico em dia

As principais vitaminas e minerais que atuam fortalecendo nosso sistema imunológico são as vitaminas A, C, E e ácido fólico e os minerais zinco e selênio. Importante também são os alimentos antioxidantes, que previnem a formação dos radicias livres. 

Vitamina A - Essa vitamina apresenta um papel muito importante na manutenção da integridade das membranas mucosas. Por isso, a sua deficiência no nosso organismo provoca uma redução do número de linfócitos T circulantes, aumentando a probabilidade de infecções bacterianas, virais ou parasitárias. Os alimentos considerados ricos nessa vitamina são: cenoura, abóbora, fígado, batata doce, damasco seco, brócolis, melão.

Vitamina C - Essa vitamina antioxidante estimula a resistência às infecções através da atividade imunológica de leucócitos. Ela aumenta a produção dessas células de defesa, que tem efeito direto sobre bactérias e vírus, elevando a resistência a infecções. Acerola, frutas cítricas (limão, laranja, lima), kiwi, caju, tomates e vegetais folhosos crus são fontes excelentes. Morangos, repolho e pimentão verde são boas fontes. Mas não se esqueça: a vitamina C é facilmente destruída pela luz e pelo calor. Um suco de laranja com acerolas, por exemplo, deve ser consumido imediatamente após preparo para que não haja grande perda da vitamina C.

Vitamina E - Essa vitamina tem a capacidade de interagir com as vitaminas A e C e com o mineral selênio, agindo como antioxidante. Sua função primordial é proteger as membranas celulares contra substâncias tóxicas, radiação e os temerosos radicais livres que são liberados em qualquer reação química do organismo e podem causar sérios danos às estruturas das células, detonando o processo de envelhecimento e desencadeamento de algumas formas de carcinogênese. Alimentos ricos em vitamina E são o germe de trigo (fonte mais importante), óleos de soja, arroz, algodão, milho e girassol, amêndoas, nozes, castanha do Pará, gema, vegetais folhosos e legumes.

Ácido fólico - Essa vitamina é essencial para a formação dos leucócitos (glóbulos brancos) na medula óssea. Alimentos ricos em ácido fólico são fígado, feijões e vegetais folhosos verde escuros (brócolis, couve, espinafre).

Zinco - Esse mineral atua na reparação dos tecidos e na cicatrização de ferimentos. Uma deficiência de zinco resulta em diversas doenças imunológicas; a deficiência grave causa linfopenia (grande diminuição do número de linfócitos). Fontes alimentares importantes de zinco são as carnes, peixes (incluindo ostras e crustáceos), aves e leite. Cereais integrais, feijões e nozes são também boas fontes.

Selênio - Assim como a vitamina E, esse mineral possui grande capacidade antioxidante, ou seja, neutraliza a ação dos radicais livres (formados devido a ação dos raios solares, poluição, fumaça de cigarro, entre outros) no nosso corpo, retardando o processo de envelhecimento e evitando o desencadeamento de algumas formas de câncer. Castanha do pará, alimentos marinhos, fígado, carne e aves são os alimentos mais ricos em selênio.


Outros alimentos que apresentam propriedades benéficas para seu sistema imunológico:

Iogurte e leite fermentado - Também conhecidos como pro-bióticos eles possuem micro-organismos vivos que recuperam a flora intestinal e fortalecem o sistema imunológico. 

Alho - Excelente agente antibacteriano, além de possuir substâncias que previnem o câncer gástrico e doenças cardiovasculares. 

Cogumelo Shitake - Esse cogumelo possui lentinan, uma substância que aumenta a produção das células de defesa do organismo 

Acerola - Fruta riquíssima em vitamina C (30 a 50 vezes mais que a laranja). Essa vitamina age na reconstituição dos leucócitos em períodos de queda de resistência. 

Gengibre - Excelente alimento que ajuda no fortalecimento do sistema imunológico


Alimentos que devem ser consumidos em boas quantidades, todos os dias por prevenir a formação de radicais livres: 

- Mamão, cenoura: são alimentos ricos em β-caroteno. 
- Brócolis, salsa, cebolinha: apresentam grande quantidades de flavonóides. 
- Laranja, tangerina, morango, abóbora: ricas em vitamina C. 
- Chá verde, uva, morango, maça: boas fontes de flavonóides.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/imunologico.htm

A Força do Básico

Comecemos pelo começo. Pelo básico. Pelo mais simples dos hábitos alimentares recomendados, mas que por vezes banalizamos e desconsideramos: comer certo e na hora certa, beber muita água...
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Pequenas Mudanças que podem Revolucionar sua Dieta

Você pode não sentir a diferença, mas seu corpo reage e elimina vários quilos. Veja algumas dicas e mude seus hábitos:

1) Comece as refeições pela salada. Seja no almoço ou no jantar, aposte em um prato repleto de verduras e legumes cozidos no início das refeições principais. Consumir alimentos ricos em água, fibras e com baixas calorias aumenta a saciedade, diminuindo a quantidade de alimentos ingeridos.

2) Coma primeiro frutas. Isso vale para o café da manhã: comece primeiro consumindo frutas, pois são ricas em fibras, água, vitaminas e minerais. Dessa forma, você prepara seu corpo para enfrentar o dia com mais disposição.

3) Beba muita água, durante todo o dia. Assim, você elimina substâncias tóxicas do organismo através da urina. 8 copos ou 2 litros de água por dia são o recomendado. Se você consome muitos alimentos ricos em água, a necessidade diminui, mas se você pratica atividades físicas, a necessidade aumenta.

4) Faça pequenos lanches entre as refeições principais. Tenha sempre por perto alimentos saudáveis, como iogurtes, biscoito integral, barrinha de cereais e frutas. Você acaba com a fome e mantém seu metabolismo acelerado.

5) Consuma carboidratos antes das atividades físicas. Quem faz exercícios em jejum comente um grave erro: se não há açúcar disponível no corpo, o organismo utiliza proteína muscular para obter energia.

6) Consuma carboidratos e proteínas depois das atividades físicas. Logo após a prática de atividades é importante repor a glicose e fornecer proteínas ao organismo para a construção de músculos.

7) Use multivitamínico uma vez ao dia. Ele ajuda a atingir a quantidade adequada de vitaminas em uma alimentação deficiente. Além disso, as vitaminas atuam na prevenção de doenças cardiovasculares.


domingo, 17 de julho de 2011

A Revolução da Comida >> Categoria Nova

Pessoas!
Categoria nova.
Para os que vivem de dieta, para os que possuem alguma restrição alimentar, para os que gostam de (ao menos) saber o que estão ingerindo. Para curiosos de todos os tipos e tamanhos.
Vamos falar de comida?

Por bons hábitos alimentares!
Por uma alimentação consciente!
À Revolução!

Algumas experiencias vividas, outras leituras...
A quem interessar possa:

  • Dieta sem lactose
  • Dieta sem glúten
  • A carne vermelha
  • O frango
  • O peixe
  • A proteína de soja 
  • Dicas de produtos, preços e marcas (onde encontrar)
  • Tabela nutricional dos alimentos
  • Alimentos poderosos (alguns macetes)
  • Novidades
  • Receitas vegetarianas
  • Receitas sem lactose
  • Receitas sem glúten

Que seja útil.
Que seja bom.
Que agregue.
Que seja gostoso.

Vamos nos falando,
Beijão

*Só pra constar: Não sou nutricionista, nem médica, nem sequer profissional da área de saúde. Adotei uma dieta muito restritiva há uns 6 meses (acompanhada de uma excelente nutricionista e de uma excelente clinica geral orto/homeopata). Contarei do que funcionou comigo, do que me foi recomendado, do que aprendi com a experiencia acumulada. A credibilidade do que aqui será postado se limita nisto. Você é responsável por suas escolhas. Escolha você o que você quer comer. Eu não me responsabilizo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Meu Aniversário

Esta é a música!
Qdo ouvi pela primeira vez, pensei: é ela! A trilha sonora do dia 14 de junho.
Gosto de oferecer música pra galera.
Mas essa eu guardei pra mim. Pra hj.
(num total momento "eu me paparico")
Esperei ansiosamente.
Chegou o dia.
É hj! =)))
Parabéns, eu! Parabéns, eu! ;))



Meu Aniversário
(Vanessa da Mata)

Hoje é meu aniversário
Corpo cheio de esperança
Uma eterna criança, meu bem

Hoje é meu aniversário
Quero só noticia boa
Também daquela pessoa, oba

Hoje eu escolhi passar o dia cantando
De hoje em diante
Eu juro felicidade a mim
Na saúde, na saúde, juventude, na velhice
Vou pelos caminhos brandos
A minha proposta é boa, eu sei

De hoje em diante tudo se descomplicará
Com um nariz de palhaço
Rirei de tudo que me fazia chorar

Cercada de bons amigos me protegerei
Numa mão bombons e sonhos
Na outra abraços e parabéns

Quero paparicações no meu dia, por favor
Brigadeiros, mantras, músicas
Gente vibrando a favor

Vamos planejar um belo futuro pra logo mais
Dançar a noite toda
Fela Kuti, Benjor e Clara

Parabéns, Bianca!
Parabéns, Felipe!
Parabéns, Micael!
Parabéns, Mateus!
Parabéns, Artur!
Parabéns, Luisa!
Parabéns, eu! Parabéns, eu!

Parabéns, Brendon!
Parabéns, Guiga!
Parabéns, Mayanna!
Parabéns, João!
Parabéns, Duda!
Parabéns, Dri!
Parabéns, eu! Parabéns, eu!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sede De Vida


Sede De Vida
(Ricardo Gondim)

Devido à nossa sede de viver, sistemas lógicos nos entediam. Rejeitamos moralismos. Bocejamos nas pieguices. Suspeitamos das ideologias. Tememos demagogias. Rechaçamos totalitarismos. Fugimos das intolerâncias.

Devido à nossa sede de viver, dizemos que o pão que nos alimenta se chama dignidade. A água só nos hidrata quando vem borbulhando com afeto. Não queremos tratados sobre ternura, basta-nos um ombro. Pagamos exorbitâncias para que alguém nos ouça com um rosto amoroso. 

Devido à nossa sede de viver, corremos qualquer distância para assistir ao poeta em êxtase. Amamos palcos, telas, picadeiros. Enriquecemos o artista. Rebelados contra os grilhões da imanência, ambicionamos por transcendência. Magia, fantasia, ficção, tudo nos encanta. Dêem-nos parábolas e compreenderemos o Reino Eterno. São as fábulas que nos municiam de critérios éticos para a próxima escolha. Tramas e  enredos de novelas, romances e contos, ensinam o amor, a vingança, o ciúme, a bondade.

Devido à nossa sede de viver, dependemos de abraços, sussurros, pele, suor, olhares. Não esperamos explicações sobre o Divino, preferimos degustá-lo. Entre a possibilidade de entender o Grande Mistério e ser mergulhados em sua presença, mil vezes optamos por um batismo de amor. Concebidos na paixão, aspiramos sentimentos. Alimentados por seios, crescemos atraídos pelo belo.

Devido à nossa sede de viver, deixamos que a cores nos inebriem, os brilhos nos entusiasmem e as trevas nos adormeçam.  Sabemos que equações matemáticas explicam a métrica da melodia, que compassos organizam anarquias, mas nos rendemos às canções mais singelas. Se organizamos orquestras para perpetuar o magnífico, também amamos  o improviso do jazz. Criamos, porque carregamos o Criador em nós.

Devido a nossa sede de viver nunca estamos contentes em apenas existir. Temos sede de vida!
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quinta-feira, 2 de junho de 2011

O Nosso Próprio Mistério

A vida ensina.
E dar uma olhada em volta, de vez em quando, pode valer muito a pena.


"Tudo é vivo e tudo fala ao nosso redor,
embora com vida e voz que não são humanas,
mas que podemos aprender a escutar,
porque muitas vezes essa linguagem secreta
ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério."

(Cecília Meireles)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Tô Cuidando Bem de Mim


Tô relendo minha lida,
minha alma,
meus amores.

Tô revendo minha vida,
minha luta,
meus valores.

Refazendo minhas forças,
minhas fontes,
meus favores.

Tô regando minhas folhas,
minhas faces,
minhas flores.

Tô limpando minha casa,
minha cama,
meu quartinho.

Tô soprando minha brasa,
minha brisa,
meu anjinho.

Tô bebendo minhas culpas,
meu veneno,
meu vinho.

Escrevendo minhas cartas,
meu começo,
meu caminho.

Estou podando meu jardim.
Estou cuidando bem de mim.

Meus Versinhos 10



É Pausa
(Monique Desiderio)

E por vezes eu sinto assim:
Preciso do escuro, da sombra, da quietude.
Preciso do silêncio da vida lá fora.
Preciso ouvir aqui dentro.
Preciso de uma pausa de mil compassos.
Preciso do ar que eu mesma produzo.
Preciso lembrar, refazer os caminhos.
Preciso gritar, esperniar, chorar em voz alta.
Preciso me olhar no espelho por um tempo. Rever os traços, me conhecer e reconhecer agora.
Preciso descansar. Pensar e não pensar.
Preciso de um tempo sem pressa. Sem urgências, sem telefone, sem grandes novidades.
Preciso estar comigo.
Preciso organizar as gavetas, as roupas no cabide.
Preciso arrumar espaço pra guardar coisas novas: pessoas, alegrias, lugares, momentos.
Preciso escrever.
Preciso rasgar papel.
Preciso juntar pedaços.
Preciso jogar fora.
Preciso olhar o mar.
Preciso me aquietar sob o calor do sol de uma manhã de outono.  
Preciso vê-lo findo, laranja entre as nuvens.
Preciso lançar mão de minhas riquezas intimas, depositadas dentro e fundo.
Preciso sofrer a dor que dói, porque sei que ela vai insistir presença em qualquer outro tempo agitado.
Preciso segurá-la forte pelo braço, olhar fundo e dizer: "Me ensina! E vai!"
Preciso renovar as forças.
Preciso respirar.

E no fim, tudo passa. Tudo.
Este meu sentir assim, também.
Não é tristeza, nem mágoa, nem medo, fraqueza, covardia, nem caverna.
Não é desistência. Nem motivo de preocupação.
É casulo.
É ninho.
É tempo.
É recolhimento.
É pausa.

Tenho Agradecido por Estar Vivo


"Tenho agradecido por estar vivo
e ter andado por todos os lugares onde andei
e ter vivido tudo o que vivi
e ser exatamente como eu sou."

(Caio Fernando Abreu)

domingo, 29 de maio de 2011

O Mundo - Eduardo Galeano

O Mundo 
(Eduardo Galeano, in "O Livro dos Abraços")

Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.

— O mundo é isso — revelou —. Um montão de gente, um mar de  fogueirinhas.

Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem  duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Um Pedaço, Um Compasso, Um Segundo do Beijo


"Eu vou pedir pro tempo esperar
  Eu quero mais
  Que vá e esqueça de passar por nós
  Eu vou pedir pro tempo me esperar, se atrasar
  Que me deixe contigo
  Me faça um favor
  Que vá e esqueça de passar por nós"

(Pitangueira - Monique Kessous)
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Estou sozinha na vontade de eternizar "aquele" momento?
Kundera diz que é melhor que eles passem. Seria um horror se ficassem repetindo-se eternamente.
E desejamos isto, muitas vezes.
De fato é melhor que venham e sigam.
O que vai abre espaço pro novo.
E o novo é surpresa, expectativa, delicia.
Que venham outros. E que sejam muitos.

Ser Sensível

Estranha felicidade em assim ser. 
Uma das partes de mim mesma que mais amo.
E amo muito! 
Vai entender... 

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Ser Sensível 
(Ana Jácomo)

"Ser sensível nesse mundo requer muita coragem. Muita. Todo dia.
Esse jeito de ver além dos olhos, de ouvir além dos ouvidos, de sentir a textura do sentimento alheio, tão clara, no próprio coração. 
Essa sensação, às vezes, de ser estrangeiro e não saber falar o idioma local, de ser meio ET, uma espécie de sobrevivente de uma civilização extinta. 
Essa intensidade toda em tempo de ternura minguada. 
Esse amor tão vívido em terra em que a maioria parece se assustar mais com o afeto do que com a indelicadeza. 
Esse cuidado espontâneo com os outros. 
Essa vontade tão pura de que ninguém sofra por nada. 
Esse melindre de ferir por saber, com nitidez, como dói ser ferido. 
Ser sensível nesse mundo requer muita coragem. Muita. Todo dia."


Meus Versinhos 9

Gerúndio
(Monique Desiderio)

Correndo
Correndo
Comendo

Vivendo
Aprendendo
Crescendo

Amando
Amando
Armando

Sentindo
Pulsando
Dizendo

Dormindo
Dormindo
Domingo

Voando
Lembrando
Viajando

Sorrindo
Sorrindo
Só indo

E indo
E indo
E andando

Buscando (beleza)
Encontrando (afetos)
Trazendo (alegrias)

Almas Perfumadas




Almas perfumadas
(Ana Jácomo)

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas,pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sobre a Crise na OSB

A Profissão de Músico
(por Thomas Hansen, segunda, 11 de abril de 2011 às 10:42 em http://www.facebook.com/notes/thomas-hansen/a-profiss%C3%A3o-de-m%C3%BAsico/206667869357190)

Pouca gente sabe direito como a profissão de músico se estabeleceu. Num momento tão crítico para essa profissão, envolvendo demissões em massa, questionamento de autoridade, protestos dentro e fora do palco e tantas flechas cruzando os céus (sem falar da rede!) vindas de dois lados da mesma coisa, faço a minha reflexão sobre isso tudo.

Ser músico não era exatamente fácil antes da Revolução Francesa. Músicos eram servos, vivíamos durante o dia enterrados em bosta de cavalo até os tornozelos, para esquentar os pés durante a lida na lavoura. De noite, roupas elegantes para tocarmos nos salões. Um pouco antes disso, só tocávamos nas igrejas e nas feiras - e os que davam sorte de fazer música em nome de Deus eram com certeza mais afortunados que seus colegas mambembes, que viviam das esmolas e da caridade de poucos. Vez por outra, um músico da corte se destacava a ponto de criar fama, tomava coragem e abandonava seus senhores. Os que foram bem sucedidos entraram na história (Giovanni Punto teve o maior enterro de seu tempo), mas para cada exceção tivemos centenas de "regras", morrendo de fome ou "retaliados" por seus ex "proprietários".

A Revolução Francesa criou o "conservatório musical", onde se formariam os músicos (ninguém mais poderia exercer a profissão sem ser "formado" pelo conservatório). Isso foi bom e ruim: de um lado, criou a semente da regulamentação da profissão, de outro, tirou a música do seio familiar - até então, se aprendia música em casa, ou na igreja. A consequência mais infeliz disso foi o nascimento de linguagens de expressão musical que já não evoluíam dentro da sociedade, e a música agora chamada "erudita" se afastou cada vez mais de seu público, até batermos num século em que, para entendermos determinadas obras, precisamos de quase tanto estudo quando seu compositor.

Liszt inventou o solista - virou o piano de lado no palco, para que suas incontáveis fâs (e as que ele pagava para o serem) admirarem seu perfil, tanto quanto a música que tocava. O artista se tornava tão importante quanto a música que produzia. Mas Liszt produzia as duas coisas: a arte e o artista.

Até quase o fim do século XVIII, éramos vassalos. Fazíamos a música de fundo dos salões, sinfonias eram tocadas aos pedaços. O único lugar em que a música era, sim, absoluta, era na ópera. Mas a ópera era (e é) mais que música: a ópera funde as artes, escancara emoções, escarnece dos ricos, exalta os simples, diverte, nos faz em lágrimas...

E a apreciação musical existia, sem dúvida! Olhares se voltavam para os jovens talentos, para obras originais, novas formas...  E foi assim que aos poucos o palco foi se transformando, a arte se transformando no centro das atenções.

Em algum momento da história (Aylton Escobar, em seu doutorado [2010], defende que o responsável foi Wagner), surgiu o maestro como conhecemos hoje. A figura que antes meramente marcava o tempo para que os músicos não se perdessem passou a ir muito além: tomar decisões musicais, uniformizar idéias e estilos, trazer à orquestra sutilezas que eram possíveis até então apenas na música de câmara. E isso foi bom, muito bom. Compositores puderam ir além, músicos puderam ir além, e de repente, o principal instrumento do romantismo se tornou a Orquestra.

Mas houve lados ruins. Já que alguém na orquestra era responsável por ser músico (num sentido amplo da palavra, conhecer estilos, formas, não apenas tocar seu instrumento), muitos se acomodaram na posição de "instrumentistas", reforçando uma idéia de que cabe ao maestro, e não ao músico, fazer música. Pra completar, o maestro se transformou no grande interlocutor da orquestra, no programador cultural, no avaliador, no grande líder. E tudo isso pode ser bom ou ruim, depende muito dos "quens" e dos "por quês". Quem quiser saber disso direito, que leia "O Mito do Maestro", de Norman Lebrecht.

No Brasil, nossa história não é muito diferente. No período colonial, éramos negros alforriados, filhos de brancos com negros ou padres. A profissão existia, sem dúvida (há notas de pagamento para os músicos que tocaram na inauguração da Igreja Matriz de Santo Antônio, em Prados-MG, datadas de 1704!), mas era relegada ao clero (compositores) e aos desfortunados (músicos).

A vinda da coroa portuguesa com certeza melhorou a vida de nossos músicos. Em que se pese que a côrte importava volta e meia músicos para lecionar e compor por estas bandas (Marcos Portugal, Sigismund Neukomm), o dia-a-dia da música nos salões era de brasileiros. Vassalos, sem dúvida, mas melhor pagos. Nos anos que se seguiram, num Brasil tão longínquo quanto uma travessia de 3 meses de barco, viu-se em nossos palcos execuções do Requiem de Mozart, da Norma de Belini e tantas outras obras relevantes do repertório europeu.

Foi no segundo império que um Regente preocupado com a importação de cultura européia (notadamente a francesa) começou a estimular nossos filhos a estudar música em terras distantes. Já tínhamos então Sociedades de música, sementes de nossas orquestras que reuniam músicos diletantes pelo amor às grandes obras. E lá foram pr'além mar Carlos Gomes, Nepomuceno, Henrique Oswald,  Brasílio Itiberê e tantos outros ilustres desconhecidos...

As Guerras nos trouxeram músicos e escolas. Imigrantes italianos, franceses e alemães se empregavam nas orquestras e sociedades musicais, davam aulas aos nossos futuros músicos. A profissão era mal paga, mal vista.

E foi nesse cenário que nasceu a Orquestra Sinfônica Brasileira. Fruto de anseios de professores de música do Rio de Janeiro, abriu seus olhos sob o jovem maestro José Siqueira - ardente defensor dos direitos profissionais dos músicos do Brasil.

Siqueira foi um grande perseguido político. Suas convicções ideológicas (era comunista engajado) foram motivo para ser sucessivamente afastado de todos os projetos em que se envolvia, e o auge desse absurdo foi justamente o que deveria ser seu maior momento: formado em direito, lutou para legalizar e regulamentar a profissão de músico, buscando as garantias trabalhistas há tanto sonhadas por todos nós. E viu seu sonho - A Ordem dos Músicos do Brasil - ser arruinado pela Ditadura, transformado que foi em um grande depósito de nossa vergonha profissional, comandado por mais de 50 anos por uma corja tão interessada na contribuição mensal, e tão pouco em contribuir com nossas carreiras.

E agora vemos, 70 anos depois de sua criação, a orquestra idealizada por um defensor da nossa carreira mergulhada em uma crise que reside no extremo oposto do interesse público, do interesse dos músicos, do interesse da música.

É claro que buscamos excelência. É claro que buscamos mais qualidade, melhores condições de trabalho, desafios profissionais. Muitos de nós se acomodaram SIM, mas não necessariamente por desinteresse, por falta de amor à profissão: muitas vezes somos vítimas de nossos próprios empregos, tocando em orquestras em que a mediocridade prima, sem expectativa de crescimento profissional, apenas contando os dias para nossa aposentadoria. E aqui somos, muitas vezes, culpados por não sacudir a toalha, lutar por melhoras, por programações mais instigantes, pela tão falada qualidade.

Mas qualidade também envolve investimento. Para sermos bons músicos, precisamos nos reciclar, adquirir instrumentos melhores, estudar novas referências. Praticamente todas as grandes empresas possuem programas de aperfeiçoamento profissional, planos de bolsas para estudos, ações de formação continuada, tudo visando que seus profissionais sejam melhores e se mantenham atualizados. Por que uma grande orquestra não deveria ter o mesmo? Investir em seus músicos? Apostar em sua competência, em vez de simplesmente chamar o próximo da fila?

É claro que se seu salário é bom o suficiente, você mesmo vai investir em sua carreira. Até porque você quer, obviamente manter o seu emprego, e sabe que para isso precisa estudar. Qualquer emprego se baseia na premissa de que você dá conta do recado da sua função, e isso não está errado. Mas também, antes de te mandar embora, uma boa empresa vai avaliar a sua experiência, suas habilidades e competências, e vai investir em você para que você atinja e supere o que se espera de você. E aí, meu caro, é com você, mostrar que você tem muito a dar, o quanto você pode crescer.

Finalmente, você precisa parar um dia. Você precisa ter tranquilidade para chegar num momento de sua vida e decidir que os mais jovens merecem espaço, que você agora deve por seus alunos em seu lugar. E para isso acontecer, é preciso dignidade. Você precisa viver além dos seus dias na orquestra, e se espera que o se aposentar não signifique passar o resto da vida tocando em qualquer bico que lhe garanta o almoço. Você deu sua contribuição à sociedade, é mais que justo que essa lhe respeite por isso.

E ao mesmo tempo, há o respeito; o mesmo respeito que queremos, devemos dar. E isso vale para todos, músicos, administradores, maestros. Alguém postou esses dias por aqui que respeito virou artigo raro. Infelizmente, isso é verdade, e não adianta se procurar quem faltou primeiro com o respeito, pois não é o erro de um que justifica o do outro (estuprar o estuprador? roubar o ladrão? matar o assassino? quem é melhor que quem?). E também infelizmente, todos perdem a razão quando o respeito se retira do palco.

Mas o que mais me assusta é ver essa briga dividida entre "classe dos músicos" e o que quer que seja a outra parte. Acaso não somos todos músicos? Maestros, instrumentistas, compositores, cada um pega a sua bandeira e briga por seu lado? Quando é que todos esses atores vão resolver agir em conjunto em defesa da grande profissão que temos na música? Talvez essa tenha sido a  maior lição que José Siqueira nos deixou: um maestro lutando pelos músicos mostra que, no fundo, músicos somos todos.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Meus Versinhos 8

(Im)Posição
(Monique Desiderio)

Não precisa me seguir.
Nem me ler, nem me ouvir.
Nem mesmo me amar.
(o amor é livre e assim acontece, ou não)

Me olhe, se quiser.
Ou desvie os olhos.
Me ignore!

Me julgue, se se sentir em condições pra isso.
Mas não desperdice seu tempo comigo.
Não me tolere.

Você não me deve nada.
E não está preso a mim.
Simples assim.

Para estar junto é necessário (e absolutamente necessário) querer.
E se não quer, não precisa estar.
(ficar sem querer estar é pesado e triste)

Mas se escolher ficar
Fique!
Fique bem.
Fique a vontade.
Fique leve.
Não tente me mudar.
O encontro fala e acrescenta por si só.
Me deixe ser.

Sim! Me respeite.
Me deixe sentir.

Me deixe livre.
E fique por perto.
E faça parte.
E enriqueça meu mundo.

Dois Velhinhos - Dalton Trevisan

Cumplicidade, companheirismo...
Acontece quando se está junto.
Independente do estar fisico.

(Ah, estar junto...
Ser "uno". Ser "tutti".
O melhor lugar do mundo.)

Criadouro de laços folgados (pq amar é especialmente deixar livre),
de afinidades e de inesgotáveis generosidades.

Como é rico o olhar do mundo do outro. E como enriquece o meu.
Pobre eu seria se não o tivesse.

Diz o Moska, lindamente:
"Gosto quando olho com você o mundo
E gosto mais do mundo quando posso olhar pra ele com você."

"Dois Velhinhos" podem ser eu e você, você e outro alguém, nós todos...


..................................
Dois Velhinhos*
(Dalton Trevisan)


Dois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo.

Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia olhar lá fora.

Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede úmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz. Com inveja, perguntava o que acontecia. Deslumbrado, anunciava o primeiro:

- Um cachorro ergue a perninha no poste.

Mais tarde:

- Uma menina de vestido branco pulando corda.

Ou ainda:

- Agora é um enterro de luxo.

Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela.

Não dormiu, antegozando a manhã. Bem desconfiava que o outro não revelava tudo.

Cochilou um instante - era dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço: entre os muros em ruína, ali no beco, um monte de lixo.



* Texto extraído do livro "Mistérios de Curitiba", Editora Record — Rio de Janeiro, 1979, pág. 110.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Composição Infantil - Millôr Fernandes


Composição Infantil
(Millôr Fernandes)

A vaca é um bicho de quatro patas que dá carne de vaca.
Tem um rabo pra espantar as moscas e uma cara muito séria de quem está fazendo sempre essa coisa importante que é o leite.
O marido da vaca é intitulado boi.
A vaca tem dois estômagos e por isso fica sempre com a comida indo e vindo na boca que, quando a gente faz, a mamãe diz que porcaria!
Já vi ordenhar vaca, que é quando ela faz aquela cara fingindo que não está gostando nada.
Vaca dizem que já custa muito cara viva, agora no açougue custa muito mais e em bife então nem se fala.
A professora ensina que ela dá leite mas nas horas de tirar é que a gente vê que ela dá, mas custa.
Vaca só se alimenta de grama e daí eu não sei porque o leite não é verde.
Se a gente fica perto ela fica olhando com olhar de que a gente fez alguma coisa com ela e ela está muito magoada.
Eu acho que todas as vacas vieram dos Estados Unidos porque ainda não perderam o jeitão de quem masca chiclete.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A Gente Se Acostuma a Tudo

Estava olhando pro mar, hoje, e pensando no quanto é bom viver no Rio. Gostoso demais!
Daí me veio à mente a coação, a invasão e o medo que senti enquanto era assaltada, esta semana. Sensação horrorosa. No dia, logo depois do susto, pensei imediatamente que seria melhor e diferente se morássemos numa outra cidade, estado ou país. Senti vergonha da absurda falta de segurança da minha (ou nossa) Cidade Maravilhosa. São muitos os altos e baixos, os mistos de beleza e caos que precisam ser administrados por nós, que por aqui teimamos em fazer morada. Isso, realmente, cansa!
Enfim, passado o susto e sob os efeitos da maresia, concluí que apesar dos pesares o Rio de Janeiro continua lindo e que a criminalidade, infelizmente faz parte. Na hora, me veio a mente uma série de crônicas do sem papas na lingua João Ubaldo Ribeiro ("A Gente se Acostuma a Tudo") que andei lendo no domingo anterior a este.

A gente se acostuma realmente a tudo! Ser assaltado não "faz parte". Não mesmo! Está errado! Fomos nos acostumando, com o passar dos anos, com a ridicula fragilidade da nossa segurança pública. E achamos normal o ônus que pagamos pelo desfrute de uma Cidade tão exuberante, elegante e bela. Mas não pode ser normal. Não pode ser normal o que acontece, em casos bem piores ao meu, onde crianças são levadas reféns, mulheres são molestadas, pessoas são privadas de liberdade e obrigadas a limparem a conta bancária num movimento relâmpago. Não. Não pode ser assim. Não é aceitável.

Ando agora ainda mais cautelosa, mas não me acostumo e nem quero fazê-lo. O pensamento natural é o de que "faz parte", mas não faz não. Com um pouquinho de pensamento critico e coragem pra pensar contra a direção do fluxo da idéia da maioria, consegue-se chegar a conclusão de que tal situação não dá pra ser. Não é normal. Não pode cair na banalidade. Não entra na veia.

Temos potencial pra mais. Tenho certeza disso. Temos vocação pra fazer mais do que observar o "perdeu" de quem "deu mole" ao lado. Podemos fazer mais do que andar de vidro fechado e tomar as devidas precauções para que não chegue até nós, nem nos afete. Não dá pra ser assim, definitivamente. Refém? Não. Tem que ser diferente. É possível. Tem que ser.

Fim de Tarde no Portão - Stênio Marcius

Amo!
Ouvindo pra caramba nos últimos dias.
Pra quem se delicía com poesia bem construída e música boa.
Um viva à sensibilidade desse cara.
Boa semana a todos.
Beijo grande.




Fim De Tarde No Portão
(Stênio Marcius)

Fim de tarde no portão
A cabeça branca ao relento
Teimosia de paixão
Faz das cinzas renascer alento

Na estrada o seu olhar
Procurando um vulto conhecido
Espera um dia abraçar
Quem diziam já estar perdido

O seu amor é tão forte
Mais que o inferno e a morte
São torrentes que arrebentam o chão
Mais fácil secar os mares
Apagar a estrela antares
Que arrancar o amor de seu coração
Fim de tarde se debruça no portão

Mas um dia aconteceu
E o moço retornou mendigo
O pai depressa correu
E abraçou o filho tão querido

Tragam roupas e o anel
Calçem logo os seus pés, milagre!
Vinho do melhor tonel
Tanta alegria em mim não cabe

O seu amor é tão forte...
Fim de tarde está deserto o portão...

quinta-feira, 17 de março de 2011

Nem Todo Mundo

Nem todo mundo diz o que sente
Nem todo mundo gosta de ouvir
Nem todo mundo sabe o que quer
Nem todo mundo acerta sempre nas escolhas que faz
Nem todo mundo é feliz o tempo todo
Nem todo mundo é infeliz o tempo todo
Nem todo mundo diz sempre a verdade
Nem todo mundo vive sempre a verdade
Nem todo mundo é de verdade
Nem todo mundo guarda segredos
Nem todo mundo tem em quem confiar
Nem todo mundo erra o tempo todo
Nem todo mundo é seguro o tempo todo
Nem todo mundo mente
Nem todo mundo é como a gente queria que fosse
Nem todo mundo sabe o que vai fazer amanhã
Nem todo mundo se deixa levar
Ninguém tem todas as respostas
Ninguém consegue elaborar sempre as melhores perguntas
Ninguém é pontual o tempo todo
Ninguém é tão sensato que não cometa erros ridiculos de vez em quando
Ninguém é tão racional o tempo todo
Ninguém é só emoção o tempo todo
Ninguém é tão burro quanto parece ser. Muitas vezes fingi-se ser
Ninguém é tão esperto quanto se mostra

São tantas imperfeições. Viver tem disso!
E eu não sei quem foi o pretencioso que sugeriu uma "lógica pra vida".
Lógica? Como? As coisas que julgamos fazer sentido nem sempre são de verdade.
Em sua maioria, são farsas, modelos pre-estabelecidos, leis castradoras.
Castrando especialmente a verdade das coisas.

Daí, viver é quase nada do que se entende de fato.
É mais coerente dizer que viver é decidir, do que entender.
Vivemos sob constantes "pontos de decisão". Decidimos algumas coisas e aceitamos outras. Fato!
A eterna balança do Principio do Prazer x Principio da Realidade.
E o que sobra, é recalque.
E assim eu poderia resumir a vida, hoje: a gente faz o que pode e não o que quer. O que a gente quer, normalmente nem a gente sabe. Já ficou lá atras.
Já o desejamos antes, e por força de diversas leis e proibições tal realização acabou se transformando em desprazer e foi enterrada no inconsciente. Foi recalcada.
E o recalque é tão simplesmente isto: O que não dá pra ser a gente engole. E ponto. Ou quase um ponto.
Daí aprendemos a fingir, a dissimular, a mentir, a enganar... aos outros e especialmente a nós mesmos.

Um sistema de leis, proibições e punições, criado para alimentar e retroalimentar inverdades.
No fundo, estamos todos presos em algum lugar dentro de nós mesmos, morrendo de medo  de colocar a cara pra fora. E este medo não é do mundo. É o medo que temos de nós mesmos. Medo da autodestruição.

Normal ser assim, absolutamente.
Se não podemos afirmar que "todo mundo" é um monte de coisas, isto é garantido que todo mundo tem: medo de não ter controle sobre as suas pulsões de morte, de destruição. E assim ser sucumbido por ela (s).


O que você faria se o "cosmos" ou a vida, ou Deus te liberasse por um dia? Dos pesos, das leis e das regras?
O que você tem guardado aí dentro? O que correria pra realizar? Qual o seu principio de prazer?
E o que te traz pra realidade?
Já pensou nisso?


*Princípio do Prazer - é o querer imediatamente algo satisfatório e querê-lo cada vez mais. É a tendência que, em busca da descarga imediata da energia psíquica, não quer saber de mais nada - nem do real, nem do outro, nem mesmo da sobrevivência do próprio sujeito. Não está necessariamente ligado a Pulsão de Vida, mas de forma mais profunda a Pulsão de Morte pois se o desejo do homem for o repouso, o imutável, a fuga do conflito, somente a morte poderá satisfazer tal desejo.

*Princípio da Realidade - princípio que nos faz compreender e aceitar que nem tudo o que se deseja é possível, que se for possível nem sempre é imediato, que nem sempre pode ser conservado e muitas vezes não pode ser aumentado. Impõe-nos limites internos e externos.