:: Atualizado quase que Diariamente ::

sexta-feira, 30 de abril de 2010

A Arte de Consumo - Reflexão

O Amolecimento pela Sociedade de Consumo
(por Urbano Tavares Rodrigues, em "Ensaios de Escreviver" )

Nos países subdesenvolvidos, a arte (literatura, pintura, escultura) entra quase sempre em conflito com as classes possidentes, com o poder instituído, com as normas de vida estabelecidas. Em revolta aberta, o artista, originário por via de regra da média e da pequena burguesia ou mais raramente das classes proletárias, contesta o status quo, propõe soluções revolucionárias ou, quando estas não podem sequer divisar-se, limita-se a derruir (ou a tentar fazê-lo pela crítica, violenta ou irónica) o baluarte dos preconceitos, das defesas que os beneficiários do sistema de produção ergueram contra as aspirações da maioria. Nas sociedades industriais mais adiantadas, o artista pode permanecer numa atitude idêntica de inconformismo; porém, os resultados da sua actividade de criação e reflexão tornam-se matéria vendável e, nalguns casos, matéria integrável.

O consumo do objecto artístico, seja ele o livro, o quadro ou o disco, quando feito sob uma tutela de opinião, que os meios de comunicação de massa, em escala larguíssima , exercem, torna-se, senão totalmente inócuo, pelo menos parcialmente esvaziado do seu conteúdo crítico. Despotencializa-se. Amolece. É o que se verifica, por exemplo, em boa parte, nos Estados Unidos. A ideologia repressiva da liberdade no mundo capitalista monopolista torna-se tanto mais perigosa quanto absorve, ou procura absorver, as próprias formas políticas de exercício das liberdades ditas essenciais, quando aceita no seu seio o escritor, acusador iconoclasta por natureza, recuperando-o em banho asséptico, limando-lhe os dentes. Mas, entendamo-nos, nem sempre o artista se dá conta dessa operação, até porque nem sempre, de facto, é ele próprio o paciente da operação que lhe reduz a perigosidade, senão que o é, sim, a sua obra, a qual, pelo poder diminutivo de uma dada comercialização, se rectifica. 
...............................

O mundo está infestado de porcarias, vazias, que vendem muito, mas nada dizem.

É preciso colocar cada coisa em seu lugar: arte é arte; entretenimento é entretenimento. E este último tem como único objetivo o ocupar das horas, a distração (gerando, muitas vezes, um emburrecimento total e absoluto). Enquanto a arte aguça, além da contemplação, o sentimento, a sensibilidade, o desejo, a reflexão, a critica e o abrir de possibilidades do "ver-mundo" antes não conhecidas.

Salvemos pois, a Arte! 
E salvemos também nossas mentes e expressões, do vazio critico e amolecido, que nos impele o mercado capitalista. 

Bom final de semana a todos.
Um grande abraço.


* Urbano Tavares Rodrigues: escritor português.

Nenhum comentário:

Postar um comentário