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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

As Últimas do RJ

Oi pessoal,
A coisa tá feia, né?!
Pois é. Desde a madrugada de domingo pra segunda que a situação só vem piorando, mas confesso que hoje foi o dia em que me senti assustada pela primeira vez.

Logo de manhã cedo apareciam umas notas na internet sobre uma possível bomba deixada no Centro. Com esquadrão anti-bomba e reforços de outros batalhões. Imaginei o caos que estaria ali, bem pra onde eu estava indo. Imaginei aquela confusão toda, ruas fechadas, boataria. Liguei pro meu marido, conversamos um pouco enquanto eu resolvia se saia ou não. A confusão estava "perto demais".

Não senti medo, daqueles que paralisam. O problema é que eu dou uma "sorte" com estas confusões! Pensa em alguma confusão no Rio nos últimos tempos. Eu estava lá (rs). Desde confusões no metrô em dias de greve de ônibus, enchente (peguei uma enchente uma vez na Av. Atlântica que não dava nem pra encarar nadando)... já fiquei presa umas 5h num engarrafamento na Ns. de Copacabana no dia do show do Rolling Stones (tudo parado, as pessoas invadindo a rua, nada de banheiro...). Na época das intervenções policiais nos morros entre 2007 e 2008, eu fazia muito Projeto Social e passei muito sufoco, de ter que deitar no chão com as crianças, me esconder no corredor e o tiro comendo e helicoptero pra tudo quanto é lado, e ninguém sai do morro... mó merda! É muita estória. Normalmente quando o caos se instala no Rio, eu tô lá! rs. Parece ímã! Ou Deus tem um grande interesse em sempre me fazer valorizar e repensar a vida.

Enfim, hj optei pelo "sem aventura". Acabei ficando em casa e assistindo a confusão toda pela TV durante a tarde. Muito sinistro! 

Venho comentando esta situação toda pelo twitter e alguns de vcs já leram algum posicionamento meu. Continuo achando que as motivações são políticas e que há um reforço bem especial da midia em piorar o clima de terror. E com isso, não desconsidero a existência da criminalidade. Ela é real, não é ficção. 

É só somar: estratificação social (na zona sul, por exemplo, no mesmo bairro tem gente dormindo no papelão com ratos e gente comprando um vestido de R$5 mil pra ir numa reuniãozinha numa quarta-feira a noite) + marginalização + privações de direitos sociais básicos como moradia, saúde, educação, lazer, segurança + revolta + preconceito + desemprego + não planejamento familiar + tráfico de armas + corrupção policial-militar + corrupção política + ONGs que se (retro)alimentam de pobreza, miséria e segregação + uso de drogas + entrada de drogas ilicitas por fronteira não vigiadas + venda de drogas ilicitas + nenhuma expectativa de vida + revolta + privações + revolta...  eis a receita de uma "bomba-favela-inferno". Caseira, inclusive. 

A prevenção está em subtrair TUDO o que foi somado acima.

O problema é que instalado o caos, não vale mais falar de prevenção e o confronto me parece ser importante e inevitável. Não resolve. Mas diminui o poderio bélico, intimida, reduz a mão-de-obra disponivel (prendendo ou matando) e especialmente nos dá uma sensação de maior segurança, pelo simples fato do Estado mostrar quem é maior que quem. Quem está no comando. Quando a policia aparece imponente diante dos nossos adversários personificados, nos sentimos menos vulneráveis. Digo "personificado" porque neste caso o problema maior não é o bandido. É o medo. Mas medo que não tem nome, nem cara, não se alivia. O bandido é a personificação do que entendemos que esteja errado. É o objeto. Então precisamos acabar com ele. De qualquer maneira. E tudo será resolvido. E a paz voltará a reinar. Numa visão reducionista, claro.

Mexeram num vespeiro, num formigueiro, num ninho de baratas, de ratos. Ao tempo que também alimentaram e engordaram a tal nação-praga durante muitas décadas. São muitos anos de cinismo. "Cresçam! Só não desçam!"
Nunca desceram em massa, mas sempre desceram pra fazer seus "ganhos", coagindo, assustando, matando.
Por isso repito: uma ação inédita como esta, em estratégia e reforço, precisa ser cirúrgica, precisa, pontual e eficiente. Eficiente, especialmente em coagir, coibir, desarticular e restaurar o máximo de ordem possível. Começou, agora vai até o fim. O poder público botou uma "banca" imponente e a expectativa da população é proporcional a isto. Se o pau não quebrar feio pro lado da bandidagem, se as atitudes não forem acertivas e eficientes em resultado, teremos outro problema: o fracasso, o ridículo, o descrédito popular gerando com isso o aumento da auto-confiança da bandidagem o que faz com que se levantem com mais força. E neste caso, neguinho, a casa vai cair pra gente.

Eu não sou humanista. Gosto do pensamento sociológico, que é onde baseio quase sempre minhas opiniões. Mas não sou humanista. Não tenho pena de bandido. Nenhuma. Sou educadora, tenho uma forte veia socialista, conheço boa parte das carências que a galera "marginalizada" sofre. Nunca morei em favela, mas já estive em buracos muito piores do que um barraco e já vi gente (sobre)vivendo da maneira mais sub-humana que vc possa imaginar. Eu dei aula por um Projeto do Viva Rio uma época no lugar onde funcionava um "microondas". As crianças não dormiam com os gritos e gemidos dos "condenados" e encontravam pedaços de dedos, orelhas, pelo chão de manhã. O que eu vi ali, enquanto estive, mudou meu olhar sobre a vida e minha concepção sobre um monte de coisas. Bandido pra mim, ou se regenera ou morre. (ficar trancado numa penitenciária, sem recursos, durante anos ou resto da vida tb é morrer). (agora eu vou de encontro a opiniões de bons amigos que eu amo muito e respeito tb. cada um tem uma historia de vida, uma formação, o que influencia muito na maneira de pensar. espero ter de volta o mesmo respeito.) Não tenho pena! Cada um que assuma as consequências das suas escolhas. Não gosto de tratar as pessoas como vitimas. E privações não justificam o crime. Se eu pudesse vitimizar uma classe na nossa sociedade seriam os mendigos, os desabrigados, os moradores de rua. A estes sim, exerço toda solidariedade. Pra bandido não.  

Não acredito em recuperação nos presídios. E estão todos superlotados. E de novo, as falhas do nosso sistema social não nos dão outra opção além de desejarmos que morram mesmo! Vão levar pra onde? Vão (re)socializar como? Em quanto tempo estarão soltos novamente? E de que maneira? A policia prende e a lei (paternalista) solta. O cara não cumpre nem metade da pena em reclusão. A única instituição que faz alguma diferença (boa) lá dentro são as igrejas evangélicas. Disparado! Nem ONG tem tanta representação expressiva quanto a igreja no ambiente penitenciário. É um monte de gente amontoado e "guardado" num mesmo lugar, só consumindo energia elétrica, comida, água... só passando o tempo e NADA de atividades que possam gerar alguma reflexão, mudança para que se chegue a tal (re)socialização. 

Não acredito que as ações sejam articuladas por um mesmo comando. Acho que quando a sensação de caos se instala, muitos aproveitam pra fazer a sua bagunça tb, o seu "proteste já!". Daí, não precisa ser bandido pra colocar fogo em carro e ônibus. Basta ter disposição, má indole, um galão de gasolina e fósforo. Tem bandido e não bandido (que virou bandido) nesta historia toda. Assim como tem boas intenções e sensacionalismo nas ações do governo e da midia.

Tô mais ou menos nesse pensamento, neste sentimento...

Queria deixar claro tb, que nem de longe estou falando de morador de favela, da galera, do povo. Nem de longe. Tenho grandes amigos em algumas delas. Gente da melhor qualidade. Estudantes, gente batalhadora, mães... pessoas. Quem me conhece de perto sabe que eu não faço distinção com ninguém. Pra mim, gente é gente. E pouco me importa a classe social, o contra-cheque, o nivel de escolaridade. Eu não estou nem aí pra essas besteiras. Não estou falando de pobre. Estou falando de bandido. E quando eu falo de bandido, eu falo só de bandido. Sei que muitas vezes são parentes e amigos de pessoas que me são muito queridas. Mas continuam sendo bandidos. E ponto. Não estou falando de pessoas de bem. Estou falando de criminosos frios e absurdamente violentos. Portanto, não se ofenda por favor. Crime é crime. Quem pratica crime é criminoso. E existe um preço a ser pago por tal transgressão. É assim que funciona e quem escolhe esta vida o faz conscientemente. Não há inocentes nesta historia: nem nós enquanto falhos em nossas responsabilidades sociais, nem eles quando escolhem o caminho do crime.

O reino desta Terra ainda não é o de Deus. E neste reino nossa justiça é sim "como trapos de imundícia", falha, parcial, hipócrita e até mesmo criminosa. O Reino de Deus é de novas chances, recosntrução do homem, esperança. A justiça de Deus foge aos nossos valores e nos surpreende. Ela favorece os mais fracos, os oprimidos. Ou nos posicionamos diante do nosso próprio reino, ou diante do Reino de Deus. Pra que Ele venha. E disponivelmente, por meio de nós.

Tenho lido muita gente dizendo: "Vamos orar pelo Rio!". Claro, vamos sim. Deus é sempre aquele Pai a quem recorremos pra que nos livre a cara quando falhamos em alguma responsabilidade. É preciso mais do que orar. Aliás, esta é a parte mais fácil e nós sabemos disso. É preciso ser Cristo no mundo e vê-lo nos que necessitam ("Porque tive fome e não me deste de comer. Tive sede e não me deste de beber...").

Vamos ficar junto, nos falando.
Psicologicamente é importante nos sentirmos seguros e termos a certeza de que as pessoas que amamos tb estão.
Dê noticias. Não ter noticias piora muito num momento desses.

Paz!
Beijo. 

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