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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sede De Vida


Sede De Vida
(Ricardo Gondim)

Devido à nossa sede de viver, sistemas lógicos nos entediam. Rejeitamos moralismos. Bocejamos nas pieguices. Suspeitamos das ideologias. Tememos demagogias. Rechaçamos totalitarismos. Fugimos das intolerâncias.

Devido à nossa sede de viver, dizemos que o pão que nos alimenta se chama dignidade. A água só nos hidrata quando vem borbulhando com afeto. Não queremos tratados sobre ternura, basta-nos um ombro. Pagamos exorbitâncias para que alguém nos ouça com um rosto amoroso. 

Devido à nossa sede de viver, corremos qualquer distância para assistir ao poeta em êxtase. Amamos palcos, telas, picadeiros. Enriquecemos o artista. Rebelados contra os grilhões da imanência, ambicionamos por transcendência. Magia, fantasia, ficção, tudo nos encanta. Dêem-nos parábolas e compreenderemos o Reino Eterno. São as fábulas que nos municiam de critérios éticos para a próxima escolha. Tramas e  enredos de novelas, romances e contos, ensinam o amor, a vingança, o ciúme, a bondade.

Devido à nossa sede de viver, dependemos de abraços, sussurros, pele, suor, olhares. Não esperamos explicações sobre o Divino, preferimos degustá-lo. Entre a possibilidade de entender o Grande Mistério e ser mergulhados em sua presença, mil vezes optamos por um batismo de amor. Concebidos na paixão, aspiramos sentimentos. Alimentados por seios, crescemos atraídos pelo belo.

Devido à nossa sede de viver, deixamos que a cores nos inebriem, os brilhos nos entusiasmem e as trevas nos adormeçam.  Sabemos que equações matemáticas explicam a métrica da melodia, que compassos organizam anarquias, mas nos rendemos às canções mais singelas. Se organizamos orquestras para perpetuar o magnífico, também amamos  o improviso do jazz. Criamos, porque carregamos o Criador em nós.

Devido a nossa sede de viver nunca estamos contentes em apenas existir. Temos sede de vida!
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