:: Atualizado quase que Diariamente ::

domingo, 29 de maio de 2011

O Mundo - Eduardo Galeano

O Mundo 
(Eduardo Galeano, in "O Livro dos Abraços")

Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.

— O mundo é isso — revelou —. Um montão de gente, um mar de  fogueirinhas.

Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem  duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Um Pedaço, Um Compasso, Um Segundo do Beijo


"Eu vou pedir pro tempo esperar
  Eu quero mais
  Que vá e esqueça de passar por nós
  Eu vou pedir pro tempo me esperar, se atrasar
  Que me deixe contigo
  Me faça um favor
  Que vá e esqueça de passar por nós"

(Pitangueira - Monique Kessous)
--------------------

Estou sozinha na vontade de eternizar "aquele" momento?
Kundera diz que é melhor que eles passem. Seria um horror se ficassem repetindo-se eternamente.
E desejamos isto, muitas vezes.
De fato é melhor que venham e sigam.
O que vai abre espaço pro novo.
E o novo é surpresa, expectativa, delicia.
Que venham outros. E que sejam muitos.

Ser Sensível

Estranha felicidade em assim ser. 
Uma das partes de mim mesma que mais amo.
E amo muito! 
Vai entender... 

---------------------------------


Ser Sensível 
(Ana Jácomo)

"Ser sensível nesse mundo requer muita coragem. Muita. Todo dia.
Esse jeito de ver além dos olhos, de ouvir além dos ouvidos, de sentir a textura do sentimento alheio, tão clara, no próprio coração. 
Essa sensação, às vezes, de ser estrangeiro e não saber falar o idioma local, de ser meio ET, uma espécie de sobrevivente de uma civilização extinta. 
Essa intensidade toda em tempo de ternura minguada. 
Esse amor tão vívido em terra em que a maioria parece se assustar mais com o afeto do que com a indelicadeza. 
Esse cuidado espontâneo com os outros. 
Essa vontade tão pura de que ninguém sofra por nada. 
Esse melindre de ferir por saber, com nitidez, como dói ser ferido. 
Ser sensível nesse mundo requer muita coragem. Muita. Todo dia."


Meus Versinhos 9

Gerúndio
(Monique Desiderio)

Correndo
Correndo
Comendo

Vivendo
Aprendendo
Crescendo

Amando
Amando
Armando

Sentindo
Pulsando
Dizendo

Dormindo
Dormindo
Domingo

Voando
Lembrando
Viajando

Sorrindo
Sorrindo
Só indo

E indo
E indo
E andando

Buscando (beleza)
Encontrando (afetos)
Trazendo (alegrias)

Almas Perfumadas




Almas perfumadas
(Ana Jácomo)

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas,pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.